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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O meu Corpo

Se meu corpo pudesse estar
onde está minha ilusão,
deixaria de sonhar
acabaria a consolação
de me mexer sem andar
e não havia ilusão.


Quero estar onde estou,
também quero estar aí,
quero ser quem não sou,
quero viver o que não vivi,
quero ir para onde não vou.


Essa estrada em linha recta
que vejo a toda a hora,
nunca mais chego à meta,
se chego, vou-me embora
não sigo a sua seta.


Por caminhos desencontrados
não encontro o que procuro,
estão mal sinalizados,
o seu piso, é muito duro,
e meus pés estão encalhados.


A luz não é clara, mas escura,
não deixa ver quem quer passar,
todo aquele que procura
a paz para repousar,
a sua alma terá que ser pura!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O LAR


Hoje fui visitar uma amiga que está internada num lar para a terceira idade.

Semanas antes dera entrada num hospital devido a um AVC.

Como amiga e vizinha, senti a obrigação de visitá-la.

No hospital , ao contrário que muitas vezes se ouve dizer, foi muito bem tratada. Asseio e pessoal competente , tive ocasião de verificar.

Como esta minha amiga é viúva e vive só, tendo apenas como companhia um pequeno cão, não pode estar em casa, apesar de ter família que reside próximo. Mas cada qual tem os seus afazeres , e esta família é muito amiga e dedicada.

Toquei à campainha. Alguém me abriu o portão carregando num botão que estava no interior da casa.

Entrei . Havia um grande pátio com muitas árvores e bancos.

Casualmente a primeira pessoa que vi, foi um antigo chefe que tive numa empresa onde trabalhei há muitas anos.

Cumprimentei-o, conheceu-me e retorquio perguntando se os meus estavam todos bem .

Despedi-me e fui ao que ali me levava, visitar a minha amiga.

A sala estava cheia de idosos. Uma sala enorme com muitos cadeirões e cadeiras que estavam todas ocupadas.

Disse boa tarde, ninguém respondeu.

Aproximei-me da minha amiga que por sinal era a doente com melhor aspecto que ali se encontrava e que mais visitas tinha.

De vez em quando eu olhava em redor e vi que algumas daquelas doentes eram pessoas que tinham residido no meu bairro e que algumas vezes tínhamos trocado algumas palavras.

Tentei falar com uma, mas não me reconheceu. Pareciam zombeis!

Fiquei muito impressionada e triste.

Algumas falaram comigo durante alguns anos e agora não me conhecem.

A vida não é justa por vezes. Sei que elas lutaram tanto na vida, para que quando chegasse esta altura tivessem uma vida mais calma, mas não, a própria vida pregou-lhes uma partida.

Às vezes dizem que os filhos abandonam os pais em casa sem condições!

Não é o caso, aquele lar tem as condições que são exigidas pela entidade respectiva.

A hora da visita passou depressa. Despedi-me do senhor que tinha sido meu chefe que entretanto já tinha recolhido.

Não respondeu. Notei que as suas palavras oscilavam, afinal também não estava muito bem.

Despedi-me da minha amiga que ainda era a que estava melhor.

Beijou-me com sofreguidão e acenou-me até eu transpor a porta da saída

Voltei a visitar novamente a minha amiga. Aparentemente estava na mesma.

Lá me beijou com sofreguidão como se me não visse há muito tempo.

Os outros, homens e mulheres nem levantaram a cabeça quando os cumprimentei, dormitavam todos.

Como sempre , a minha vizinha era a que mais visitas tinha. Senti nela uma alegria imensa quando eu aparecia. Pudera, moramos lado a lado há muitos anos !

Trabalhámos na mesma empresa durante alguns anos, agora que estava reformada e que podia ter algum tempo de laser quis o destino que isso não acontecesse.

Era a minha companhia nalguns passeios que a nossa empresa promove anualmente.

Na despedida das minhas visitas envia sempre muitos beijos para a minha família embora ela já se não lembre dos seus nomes. Não a vou visitar todos os dias derivado à minha vida particular , mas assim que posso lá estou eu. A sala onde se encontram os outros utentes é muito grande. Tem imensos cadeirões e mesas onde recebem as suas refeições. No piso inferior , são os quartos de dormir, alguns estão ocupados com doentes acamados, cada quarto tem duas camas, também há um armário individual para cada internado.

Nas mesas das refeições cabem quatro pessoas as quais têm lugar cativo que é para não fazerem confusão . A alimentação, dizem que é boa, mas como a cozinha fica ali muito próxima e pelo cheirinho que dela sai é de crer.

Tenho reparado que as empregadas são muito carinhosas para com os utentes. Também há um médico que os trata muito bem.

Tomam os remédios a tempo e horas, e se por acaso alguém se magoa como foi o caso da minha vizinha as atenções são redobradas. As minhas visitas são passadas assim, conversando, fazendo que eles se riem com algumas festas e piadas que tento fazer.

E já passara oito meses e a minha vizinha continua a acreditar que está no hospital e que só sairá quando lhe passar o inchaço que tem numa perna. Continuo a visitá-la , mas agora tenho outras amigas. Julgo que sempre tive um certo jeito para lidar com a terceira idade.

Entre os pacientes estão duas idosas que não consigo saber qual as suas idades.

Uma diz que tem quarenta anos, a outra diz que tem trinta. mas as duas já ultrapassaram os oitenta.

A uma pergunto quem lhe deu a roupa tão bonita que traz, responde-me que foi à baixa mais a mana comprar. Eu não a desminto pois ela não tem nenhuma mana, ou talvez tivesse tido.

A esta chamo menina Ivone a outra é a menina Ana, são os seus verdadeiros nomes.

Adoram a minha companhia, e ficam com outra cara quando me despeço delas.

A menina Ana teve há alguns anos , uma mercearia na minha rua.

Infelizmente veio-lhe a tal doença horrível "Alzeimer".

Agora, passa os dias a fingir que descasca batatas, aspira o chão com a bengala julgando que é o aspirador e até me disse que mandou o marido ir buscar uma saca de cebolas.

Por vezes cozinha arroz de ervilhas e convida-me para jantar com ela, claro que finjo que aceito.

Como na sala não há barulho, a menina Ana vira-se para mim e diz: qualquer dia meto estas raparigas numa camioneta e vão todas apanhar azeitonas!

As raparigas são as idosas que estão no mesmo estado do que ela

Outras vezes finge que está a fazer bainhas à saia, e mimicamente vai apanhando as linhas que só ela vê no chão. mas o mais agradável é a boa disposição que esta senhora tem e o seu sorriso encantador.

Com respeito à menina Ivone , não sei qual a sua idade, nem sei qual a sua doença. fala muito baixinho mas muito acertado.Tem uns lindos olhos azuis, uma pele branquinha, umas mãos muito finas, tudo nela brilha!

Está sempre muito bem vestida, mas nunca lá vi nenhum familiar. Diz-me que quem lhe comprou a roupa foram a mana e a mãe numa loja da baixa.

Diz que a mãe tem vinte anos, ora ele deve de ter oitenta! Mas para a ouvir bem tenho que encostar o meu ouvido à sua boca.

Passa os dias sentada no mesmo cadeirão, com um xaile nas pernas e só fala quando me meto com ela. Quase que me vou esquecendo da minha vizinha.

Outro dia, a menina Ivone levantou-se rapidamente e convidou-me para ir com ela a casa da mãe e perguntar-lhe qual a razão de não a vir visitar! Desculpei-me com o mau tempo e ela resignou-se, nunca mais falou no assunto.

Estes são os assuntos que aquelas adoráveis senhoras têm comigo cada vez que as vou visitar, pois elas já fazem parte da minha intenção de visitas.

Estou pensando continuar a visitá-las mesmo que a minha vizinha saia um dia para a sua casa.

Agora sei que um sorriso e umas palavras amigas conseguem pôr algumas almas felizes.

Certo dia, fui informada que o meu antigo chefe tinha falecido, mas o que mais me impressionou foi que na vésperas tínhamos estado a falar a relembrar o tempo que ele fora meu chefe.

As senhoras minhas amigas já estão acamadas, por isso já não vale a pena visitá-las !

A minha vizinha está a fazer hemodiálise três vezes por semana, e nestes dias está tão cansada que não recebe visitas !

A sua memória está a enfraquecer dia a dia.

Agora resta-me olhar para a sua janela e lembrar-me das vezes que íamos aos passeios que a nossa empresa organiza para os reformados!

Desisti de ser uma MADRE TERESA!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não partas

Não partas já meu irmão,
não partas porque não quero,
vai-me fazer falta
o teu carinho e compreensão
que sempre me deste e retenho
no meu coração.

Não partas porque ainda é cedo,
não partas que tenho medo,
onde irei buscar as tuas palavras?
Sabes que sempre te amei,
foste meu amparo enquanto criança,
ao teu lado sempre andei.

Por isso deixa-te ficar ao meu lado,
quando fores, iremos os dois,
espera mais um pouco,
o nosso lugar está guardado,
ninguém tomará posse dele,
não partas meu irmão amado,
não partas!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Férias, acabou o verão

Agosto está no fim, / o verão está a acabar,
já nada resta de mim / apenas o amor pelo mar.

Nunca se zanga comigo / quer esteja calmo ou zangado,
será sempre meu amigo / esse grande mar salgado,

Com ele falo livremente / não tenho palavras de troca /
conhece meus pensamentos / e não se ri de troça,

Falo com ele calada / meus olhos o fitam lá longe /
vejo-o por todos os lados / e de mim nunca se esconde.

sábado, 27 de junho de 2009

A praia num dia de nevoeiro

As águas do mar balançam conforme a força do vento. A praia pouco a pouco vai-se enchendo de gente . Não é aconselhável tomar banho, os banhistas já tinham colocado a bandeira vermelha, sinal que o mar está revolto.
As crianças brincam na areia, alguns mais afoitos afastam-se da mãe que logo o chama para junto de si. Passa o homem dos gelados, mãe compra um diz o pequeno. Compro, e os outros meninos também tiveram direito a um gelado.
O mar fazia algumas poças de água onde os mais pequenos brincavam , ora enchendo os pequenos baldes com água e na brincadeira molhavam os pés às respectivas mães. Também com a água que enchiam os baldes despejavam na areia seca e faziam castelos, que entretanto eram desmanchados por meninos mais crescidos e mais reguilas. O mais pequenino não conseguia encher o balde e por isso não fazia castelos.
A menina de fato de banho cor de rosa e lindas tranças louras, jogava à bola com outra menina.
Vem um rapaz com cara de mau e tirou-lhes a bola e fugiu com ela.
Um senhor que tinha presenciado a cena e como tinha uma bola a mais, ofereceu -a à menina das tranças. O choro acabou. Havia um casal que não parava de fumar e não prestava atenção ao filho. Este foi andando, andando e foi encontrado pelo banhista no outro extremo da praia O vício dos pais quase permitiu que a criança desaparecesse. Mas serviu para estarem mais atentos no futuro.
Há outro banhista que trouxe o seu animal de estimação para a praia. O cão de porte alto não parava de correr e saltar, a ponto que assustou muitos meninos e adultos.
Há uma criança que não pára de chorar porque o cão lhe roubou o biscoito que estava a comer.
Apareceu a guarda marítima e multou o dono do cão, pois não é permitido levar animais para a praia, principalmente na época estival.
O homem das bolas de Berlim apregoava, mas como estas tinham creme não houve compradores.
A Filipa é teimosa e a mãe grita-lhe: não vais para dentro de água. Ó mãe os outros meninos estão lá. Os outros não são meus filhos e a bandeira continua vermelha.
Nisto desaparece o sol, e no seu lugar cai sobre o areal um denso nevoeiro, que mal as pessoas se viam umas às outras. Vestem rapidamente as suas roupas e agasalham as crianças.
A Rita grita porque a irmã atira-lhe areia. O pai não responde , pois mesmo com nevoeiro continua deitado de barriga para o ar, e a mãe ralha.
Levanta-se com dificuldade, enrolam as toalhas depois de serem sacudidas, O pai recolhe o chapéu de sol de cores variadas, a mãe carrega com o cesto do lanche e as crianças cada qual leva as suas chinelas.
A praia fica mais vazia e o nevoeiro adensa-se.
Uma mãe chama pelo filho , pois o nevoeiro não permite que o veja, mas a criança estava a dois passos do lugar.
Lá longe no mar, há alguns surfistas que mesmo em tarde de nevoeiro não prescindem do seu desporto favorito.
Os banhistas mais teimosos recusam ir para casa , pois muitos vieram de longe e sempre há esperança que o tempo melhore.
Há uma criança que perde um sapato e teve que regressar com um sapato a menos. O bebé
deixou caír a xuxa, mas com o nevoeiro não foi possível encontrá-la, adormeceu de tanto chorar.
Se regressarem no próximo domingo, pode ser que já nem se lembrem do nevoeiro, e haverá mais peripécias para contar. Até lá.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Há sempre um dia bom

O João andava por maus caminhos, e nem os conselhos da mãe e os ralhos do pai o fazia recuar.

Levantava-se tarde sempre com desculpa do que estava doente. A mãe fingia acreditar para não se exaltar mais, visto que o médico a tinha avisado para ter cuidado com o coração.

O pai regressava tarde quando o dia já tinha acabado e a noite se aproximava.
Então o rapaz foi trabalhar?

A mãe tremia que nem varas verdes, a cor da face avermelhava-se e lá respondia trémulamente que não.
E agora onde está?
Saiu depois do jantar.
Já a noite acabava e se aproximava a luz solar, quando o João entra em casa.

O pai esperava-o sentado num banco de cozinha. De vez em quando a sua cabeça pendia para o peito, e o homem lá acordava pensando no que estaria ali a fazer. Tinha que retomar o trabalho dali a poucas horas.

Sentiu a porta abrir-se.
De pé e com o dedo indicador no ar, aponta-lhe a porta por onde ele tinha entrado: rua, diz ele.

João não contava com esta atitude do pai. Que o pai não andava muito feliz com o filho, ai isso não andava.

Rua , repetia, ao mesmo tempo que lhe dava uma grande bofetada. A mãe, no interior da casa nada dizia, apenas chorava diante de uma imagem da sua santinha preferida e pedia-lhe para que o marido não fizesse uma coisa daquelas!

Já era tarde. O rapaz já tinha saído.

Onde estará ele? Não sei, mas se tu não deixas de suplicar aos teus santinhos, ainda vais pelo mesmo caminho.
Joaquina agarrou-se às pernas do marido e suplicou.

Naquela noite, José não se deitou seguiu directamente para o trabalho.

O chefe, um homem alto, de óculos escuros, barriga saliente, bigode fininho a condizer com os lábios, pergunta: sr. José está doente?

Não senhor Mendes. Mas olhe, parece que sim, porque o senhor José está a tremer e com a cara pálida.

Não é nada.

Não se conteve e duas lágrimas caíram pela sua face.

Venha ao meu gabinete, disse.

Sente-se, vou mandar vir uma água e vou lá para fora enquanto o senhor descansa. Pode chorar à vontade porque não fica mal um homem chorar.

Senhor Mendes puxou por uma cadeira e aproximou-se dele.

Senhor José já está mais calmo? Agora se quizer contar, conte.

Mas então se o seu filho tem esse comportamento temos que arranjar solução para ele. Mas como?

Senhor José, veja se o consegue trazer até cá.

Trazê-lo aqui, mas como e para quê? Vai ver senhor José, traga-o cá nem que seja obrigado!

O rapaz está? Está a dormir, ele veio tarde como sempre.
Vai acordá -lo. Mas como, se ele se fechou no quarto e não quer ouvir ninguém.

Abre essa porta rapaz, estás a ouvir? Se não a abres rebento-a a pontapé. E dizendo isto, começou aos murros e pontapés na porta. Abres ou não? A porta abriu-se, o que quer?

Quero saber por onde andaste a noite passada? Responde porque o caso pode piorar. Andei com uns amigos. E quem são esses amigos? São uns rapazes que conheci aí na rua.

Ah, só porque os conheceste na rua já são teus amigos? E as pessoas que tens aqui dentro de casa o que são?

João mantinha-se calado. O que são as pessoas que tens aqui em casa? Responde. Esperou uns segundos, e agarrando-se ao pescoço do pai e soluçando pedia a este perdão.

Não foram precisos mais sermões. No dia seguinte senhor José apresentou o filho ao senhor Mendes. Levava outro semblante. Senhor Mendes notou a alegria daquele homem, chamou o jovem ao seu gabinete e perguntou: queres ser um homem honrado como o teu pai? O jovem sentiu-se envergonhado, e abanando a cabeça como a dizer que sim . Bem, então amanhã vens com o teu pai à hora do costume, vais ser meu empregado.

A figura do senhor Mendes até já não era tão feia, aquele bigode fininho por cima de uns lábios igualmente fininhos até tinham a sua graça. Os olhos reluziam como duas pequenas azeitonas.

Finalmente consegui tirar este rapaz da rua, pensou.

Nessa noite, eram quatro a dormir que nem uns justos. Senhor José, finalmente tinha o seu filho com uma alma nova em casa.

Senhor Mendes agradeceu a Deus por lhe ter dado forças para salvar um jovem que tinha a idade do seu filho.



terça-feira, 26 de maio de 2009

A vida de uma criança da Aldeia

Tinha como hobby trepar às árvores e retirar os ovos dos ninhos que os passarinhos tinham posto ali com muito cuidado.

A mãe bem lhe dizia: António sai aí de cima , olha que um dia cais e partes a cabeça!
Ora, entrava por um ouvido e saía pelo outro.

Todos na aldeia sabiam que o António era o mais teimoso e mal comportado!

Na escola, o professor, raro era o dia que não lhe dava umas palmatoadas.

Não queria aprender nada na escola, pois a rua e o campo eram os seus mestres.

Conhecia todos os pássaros, sabia todos os seus nomes. Também conhecia toda a espécie de caça

principalmente os coelhos, pois até os apanhava à mão. Nesses dias, a mãe tinha algo para jantar

e então o António era muito elogiado pela família que era numerosa; todos os outros rapazes não

se juntavam ao António . Eram avisados pelas respectivas mães que não podiam andar com o

ele porque não era boa companhia. Coitado do António pagava pelas que fazia e pelas que não fazia!

Um dia, apareceu um vidro da escola partido, e quem foi? O António, pois claro!

O professor chamou-o ao quadro e no meio da aula replecta de alunos ordenou-lhe que esticasse as mãos; o António ainda tentou escondê-las atrás das costas, mas o professor figura muito alta e com muitas aulas dadas a muitas gerações, agarrou nas mãozitas do rapaz e deu-lhe mais meia dúzia de reguadas em cada mão!

Não sais daqui , grita o professor, vais ficar em pé virado para os teus colegas até a aula acabar.

Os colegas riam-se tapando a boca para o professor não reparar.

O Varela ria-se e dizia para os outros: fui eu que parti o vidro , mas foi bacano ele levar!

Naquele dia o António disse à mãe que não queria voltar à escola. Tens que ir meu filho, olha para a tua irmã Maria que é a melhor aluna e gosta de andar na escola.

Pele noitinha, o sr . Marques, pai do António dava-lhe conselhos: filho, não queiras ter o destino que eu tive, comecei a trabalhar muito cedo e acabei por não aprender a ler!

Mas pai, o professor bate-me por tudo e por nada!

Amanhã vou falar com o professor. Não vale a pena pai, ele não vai compreender!

António faltou à escola e como não apareceu em casa , a mãe foi saber o que se passava.

As piores informações recebeu a senhora Maria.

Não pode ser senhor professor: o meu filho é como os outros.

Olhe senhora Maria, o melhor é a senhora pôr o seu filho a trabalhar com o pai e tirá-lo da escola!

António nunca mais foi à escola, mas a sua reputação andou sempre como andava.

Continuava a assaltar ninhos e com os ovos a mãe cozinhava-os para comerem.

Não ia com o pai, pois trabalho não havia para ele quanto mais para um rapaz daquela idade.

Um dia, apareceu um rapaz com a cabeça partida , dirigiu-se ao professor e acusou o António.

Este, mandou-o chamar , pediu-lhe as mãos e por mais que o rapaz gritasse mostrando a sua inocência, o professor não resistiu.

O causador daquela acto não parava de rir , e quando saíram, o António deu-lhe tantas que ele nem respondeu.

Sabendo o professor do acontecimento, mandou chamar os dois e soube que afinal o António era inocente. Convidou-o a voltar à escola mas este recusou. Também ficou a saber que o vidro da janela tinha sido o Varela quem o partiu.

António continuou a viver sem amigos, mas avida do campo era tudo para ele. Além dos pássaros também conhecia todas as espécies de árvores . Era com elas que gastava todas as suas energias, comia dos seus frutos e levava para casa.

Cresceu e continuava a não ter amigos.

Como ele andava sempre na rua, algumas senhoras mais abastadas pediram ao António senão se importava de lhes fazer alguns recados

E assim começou o António a ser moço de recados. desempenhava muito bem e com alguma vaidade o seu novo ofício.

Um dia, os seus antigos colegas de escola com muita inveja, resolveram pregar-lhe uma partida.

Esperaram por ele à saída da mercearia e tiraram-lhe tudo o que ele levava.

Por mais que o António chorasse e jurasse o que tinha acontecido ninguém o acreditava.

Mais uma vez o professor o chamou à escola e lhe pediu as mãos.

Ao mesmo tempo que chorava e dizia que estava inocente o professor não acreditou, e o castigo veio em seguida.

Os colegas não se cansavam de rir e por uma coisa que não fez, as senhoras da aldeia prescindiram dos seus serviços.

Voltou ao campo para junto das árvores suas amigas.

Mas nem tudo é azar na vida de uma pessoa.!

Uma vizinha que tinha presenciado o roubo das coisas que o António tinha ido comprar para a senhora dona Mariana e embora o seu filho estivesse metido no assalto, encheu-se de coragem e foi falar com o professor.

Bom dia senhor professor, disse; Bom dia senhora Joaquina, deseja alguma coisa?

Desejo sim, senhor professor.

Meninos podem sair para a senhora Joaquina falar comigo,

Não , senhor professor , eu quero que os seus alunos me oiçam.

Com um aceno os alunos voltaram a sentar-se.

Senhor professor, há já algum tempo que era para vir aqui falar-lhe, mas havia algo que me dizia para não vir.

Diga senhora Joaquina, diga.

Então lá vai, lembra-se daquelas palmatoadas que deu ao António por este ter tirado as compras à senhora dona Mariana?

Sim. E o que tem a senhora Joaquina com isso?

Tenho sim senhor professor, é que não foi ele.

Neste momento os alunos coraram todos ao mesmo tempo!

Não foi ele? Não, não foi.

E quem foi? O meu filho, e os outros.

Como sabe? Eu estava à janela e vi. E só agora é que vem dizer?

Senhor professor eu não disse porque o meu filho está metido nisto, e depois de tanto pensar achei que o António não podia ser mais castigado por coisas que não fêz.

Então meninos o que dizem? Todos se calaram. Se calhar não foi o António que partiu o vidro e nem partiu a cabeça ao Julião!

Se ninguém se acusar vão todos apanhar o respectivo castigo.

Como ninguém se acusou, o professor deu meia dúzia de palmatoadas a cada aluno.

Na aldeia, toda a gente ficou a saber que afinal o António não era o pior de todos.

Dona Mariana ficou a saber do sucedido e passou a confiar novamente no António, assim como todas as outras senhoras.

O professor ainda tentou que o António voltasse de novo à escola, mas este quis continuar como moço de recados.

Aos colegas da escola, António esqueceu-os!

domingo, 3 de maio de 2009

Novamente o dia da Mãe

3 /05/09

Sabes que para mim é sempre o dia da mãe, pois nunca te esquecerei. O que estás a fazer neste momento`? Por acaso tens a teu lado o meu pai e a minha avó Teresa? Que saudades que tenho vossas!
Diz a eles para me protegerem, já agora também aos meus filhos e netos.
Quando for para onde vocês estão, eu farei o mesmo.
Sabes que o António tem estado doente, mas não o leves para aí já porque ele vai ser bisavô deixa-o gozar este privilégio mais algum tempo. Eu gosto muito dele, é o meu irmão preferido porque nunca me abandonou, e tu sabes bem.
Mas, também podes proteger os outros.
A Geninha está contigo? Diz-lhe que tenho tentado conviver com as suas filhas, que são fantásticas.
O Zé também não vai muito bem, mas deve-se em parte ao desmazelo dele.
Tenta convencê-lo ir ao médico.
Já viste a minha Dianinha, é linda, dizem que tem ares a mim, também podia sair a outra pessoa mais bonita!
Sempre disseste que eu não era nada bonita, mas já estás perdoada.
Vou acabar, quero que me recomendes a toda a nossa família, mas principalmente à minha querida avó Teresa.
Saudades para todos e que o meu pai resolva aquele problema que ele sabe qual é. o mais rápido possível.
Continuarei a pedir por vocês a Deus para que a vossa estadia seja a mais calma e cheia de luz.
Até um dia.
Maria

sábado, 14 de março de 2009

Já não vejo

Já não vejo as searas / que deixei no Alentejo, / já não vejo os caminhos / nem fontes e barrancos / nem ninhos de passarinhos.

Não vejo as mondadeiras / nem vejo as ceifeiras, / não vejo as belas eiras / não vejo as seareiras, / nem vejo as lavadeiras.

Já ninguém vai à fonte / buscar água fresquinha / não há ninguém no monte, / ninguém vai ao moinho / trocar trigo por farinha.

O Alentejo que vejo / não é aquela que deixei / também não há risos / na escola onde andei.

Rodei a esfera do tempo / e agora o que vejo? / uma lágrima , / um lamento, na face do Alentejo!

segunda-feira, 2 de março de 2009

TU

Procurei-te com meus braços,/ não me quiseste abraçar, / ofereci-te a minha boca / desviaste o teu olhar.

Quis dar-te o meu amor, / um passo deste atrás, / só vi em ti rancor, / e daquilo que és capaz.

Fizeste pouco da minha dor, / isso não se faz, / mesmo quando não há amor, / não queres dar não dás, / mas não troces por favor!