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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Olhos negros

Aquela praia de areia preta, / como eu nunca vi, / lembro-me a cor dos olhos /que numa noite de verão eu conheci.

Somente a lua brilhava, / pareciam dois faróis, / a iluminar a calçada.

Por eles fiquei perdida, / redondos como a lua,/ mas depois fiquei sentida, / quando sobe que não era tua.

Restou-me a areia da praia, / nela me deitei, / e ali sósinha e triste, / meus cantares entoei !.

O luar fez-me companhia / e ouviu as minha mágoas, / mas quando rompeu o dia, / tinham ido com as águas.

Deixem-me ser eu

Porra! Não posso dizer nada, / que sou logo censurada, /se abro a boca para falar, / dizem-me p´ra fechar.

Se olho para a direita , / não é sítio para olhar, / se riu, ninguém sabe porquê , / mas não choro, / seria adivinhar a lágrima do meu olho.

Se pergunto porqûe, / é porque sou intrometida, / gaita, já não sei o que fazer / à minha vida!

Se não concordo, / sou antiquada, frustrada, / se dou, é a minha obrigação, / se não dou, / quero levar tudo para o caixão.

Porra, deixem-me dizer uma palavra, / deixem-me SER EU!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Entrou a felicidade

A porta abriu, olhei e perguntei, / quem é? / O maior silêncio se ouviu. / Fui pé ante pé,
Tornei a perguntar, / não ouvi resposta, / seria o vento a soprar? / A porta mais se abria.

Senti algo no meu corpo / um frio o percorreu / parecia que estava morto / em pouco tempo arrefeceu.

Quis mexer-me e minha voz soltar / a porta estava aberta / mas, ninguém vi entrar.

Quem está aí? / Voltei a perguntar. / Resposta não ouvi / solucei, parei de chorar.

Levei as mãos à cabeça / deixei os olhos secar / não tinha pressa / uma brisa senti no ar.

Segredou-me ao ouvido, / não tenhas medo, / sou a felicidade / que vem morar contigo.

Se eu gritar.......

Se me vires gritar / não perguntes porquês / se me vires chorar / finge que me não vês.
Passa adiante / segue o teu caminho / o meu, é errante, / sei qual é o meu destino.

Por favor não me distraias / sei aonde irei, / mesmo a chorar, ou mesmo a gritar / não volto por onde passei.

Aquele chão já está pisado, / agora caminho para outro lado, / para trás é que não, /não teria qualquer perdão / se para trás voltasse / ou se o mesmo chão pisasse.

Caminho por cima das pedras, / mesmo que elas meus pés cortem / por frente encontrarei um rio, / lavarei minhas feridas, / sei que irei sentir frio, / minhas passadas não foram perdidas.

Vou parar de gritar / podes perguntar porquê, / já não vou chorar, /aqui ninguém me vê / pelos mesmos caminhos / não vou jamais passar !.

Esse teu passo apressado

Quando por ti passo perto / e vejo a tua vaidade / muita gente pensa decerto / que tudo em ti é verdade!

Teu olhar arrogante e triste / nos teus óculos escondido, / lembras algo que não existe / e que não tenhas vivido.

Passas apressada correndo / como se a rua fosse tua, / mas doutros também é / o mesmo sol e a mesma lua.

Quando por ti passar / alguém que te conheça / não custa cumprimentar, / não lhe vires a cabeça.

Com um sorriso modesto, / estende-lhe a tua mão, / e assim com esse gesto / é como lhe desses pão!

terça-feira, 3 de junho de 2008

O dia do trabalhador

Naquele dia, o ti José estava triste. Algo sentia, parecia que tinha uma espinha encravada na garganta. Chorar, não podia, pois foi-lhe ensinado assim que começou a gatinhar , que um homem não chora; até já nem se lembra se algum dia chorou.

Ah, lembra-se agora, que sim, naquele dia tão distante, quando lhe vieram dizer que o pai tinha morrido!
Correu para trás da casa e aí sim , aí chorou bastante.
Limpou apressadamente os olhos aos punhos da camisa , e apresentou-se perante a mãe.

Filho, diz ela, ainda és muito novo, mas terás que compreender a partida do teu pai.
Tens que sair da escola, vais trabalhar , pois iremos ter falta de dinheiro!

E foi assim que José, garoto, começou a guardar ovelhas na herdade do senhor Jaime da farmácia.

Levantava-se antes do nascer do sol, comia umas sopas de leite, a patroa punha-lhe dentro do alforge um naco de pão cozido havia mais de oito dias.
Juntava-lhe um pedaço de toucinho salgado, e só regressava ao pôr do sol.

Levou anos a fazer a mesma coisa, aí uns sessenta anos, talvez!
Sabia de cor os nomes das ovelhas, pois fora ele que assistiu ao seus nascimentos e lhe dera os nomes pelos quais as chamava.
Até sabia de cor a data dos seus nascimentos.
Também tinha o Fiel, o seu velho cão, que conhecia o rebanho tão bem como ele.
Ti´Zé ergueu a cabeça e despertou com o barulho que a charanga fazia ouvir.
O sol brilha. Os campos estão cheios de trigo e de papoilas.
Ora os seus olhos já viram tantas searas e tantas papoilas!
Agora não podem ver muito, estão cansados! Precisavam de uns óculos, mas como?
A reforma que recebe nem para o tabaco chega, mas também há muito que não fuma!
O dinheiro não chega para vícios, diz ele algumas vezes, com um pouco de escárnio!
Uns copitos ainda lá vai, mas caramba um homem às vezes não resiste.
A charanga chegou ao adro da Igreja. O barulho aumentou.
José olhe que hoje é dia do trabalhador, venha!
Os meus dias de trabalho já lá vão, hoje é o meu dia de descanso, disse com um sorriso amarelo!