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sábado, 31 de maio de 2008

Eu quero estar morta

Eu quero estar morta, / mas morta por momentos, / quero ver se aquela porta, / se abre a outros ventos.

Quero ouvir as palavras, / que então irás dizer, / e sentir a coragem / que farás transparecer.

Vais dizer que me amavas, / pedir perdão do que fizeste / que muito me amavas, / que fui o amor que tiveste.

Agora o que vai ser de mim, / dizes com lágrimas de crocodilo, / pedes perdão sem fim / disto e mais daquilo !

E quando eu acordar, / teu semblante muda de cor, / juras para sempre me amar, / e que não terás outro amor!

Contigo dormi

Na tua cama me deitei, / contigo dormi, / mas quando acordei / não estavas ao lado de mim.

Estiquei o meu braço, /o teu lugar estava frio, /quis dar-te um abraço, / senti um calafrio / não quiseste o meu regaço , / contigo não vou jamais dormir.

A Morte

A morte não tem graça / mas tem a sua ventura, / dá paz por onde passa, / da cama, à sepultura.

Há quem sofra para penar / os males que outros fizeram, / mas a morte ao passar, / leva aqueles que sofreram!.

Abre os braços e aponta / agora é a tua vez, /mais um e não conta / as obras que ele fez.

Acompanha o infeliz, / fizesse ele bem ou mal, /as palavras que lhe diz: / até ao Juízo Final.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

A brisa

Sentada no campo estou / de verde toda cercada, / uma brisa por mim passou, / e a minha face foi beijada.

Meus cabelos desmanchou, / a minha cara ficou rosada, / quando a brisa por mim passou, / senti-me mais amada.

Continuo no campo sentada, / de olhos postos no céu, / espero que a brisa volte, / para beijar o rosto meu.!

A árvore

Olhai aquela árvore / que tão mal estimada está / de folhas despida,/ sombra, já não dá / e pouco lhe resta de vida.

Deu guarida aos passarinhos, / das suas folhas fizeram camas, / também fizeram seus ninhos / resistiu a muitas chamas, / e indicou muitos caminhos.

Era uma árvore secular, / um dia, alguém se lembrou, / por uma estrada no seu lugar, / ninguém jamais a regou, /até sua vida acabar.

Recebe visitas ás vezes / dos seus amigos pardais, / estes continuam voando, /e entre lamentos e ais / o seu tronco vão beijando.

Não tem lágrimas para deitar,/ seu coração já parou / mas, quando a vão beijar / parece que ressuscitou / com tanto chilrear.!

Ausência

Andaste muito tempo ausente / pergunto, onde estiveste? / mas crê que na minha mente / por muitas voltas que desse, / lembrava-me constantemente, / estivesses onde estivesses.

Perguntava por ti a alguém, / dava todos os teus sinais, / respondiam negativamente, / diziam isto e muito mais, /continuava o meu sofrimento, / os meus desânimos eram tais, / que não apagavam o tempo,/ que tu andaste ausente.


Agora voltaste e vais ficar / não te vou deixar partir / aquela porta vou fechar, / jamais se irá abrir, /nem que tenha de a selar.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A fonte

Água clara e pura , / por aquela fonte corre, / todo aquele que a procura, / tem a certeza que não morre.

Não morre de sede e ansiedade, / porque isto ela matou, / pode-se beber à vontade / que o tempo não passou.

Já corre há muitos anos, / muitas sedes ela matou, / quantas vidas e desenganos / à sua beira escutou.

No caudal das suas águas / murmúrios de amor ela ouviu / muitos risos, muitas mágoas / de gente que nunca mais viu.

Não conhece o seu destino / disseram-lhe que ia dar ao mar / mas um regato pequenino / não pode nunca secar.

Ao homem

Como sempre, foi o homem / pois é ele sempre que quer, / escolheu o mês de Maio, / para o dia da mulher.

Ele que sempre quis, / no mundo mandar, / escolheu este mês, / para a mulher elogiar.

É bom dizer ao homem, / que ele não tem poder, / e que o dia da mulher / é quando ela quiser.

Como vejo o mar

Olho ao fundo e vejo o mar, / azul muito azulinho, / vejo peixes a saltar, / e um barco devagarinho / parece uma noz a boiar.

Gaivotas acompanhando / os barcos que peixe trazem, / homens de voz rouca gritando / aproximam-se da margem / onde amigos estão esperando.

Na areia escaldante e fina / o peixe eles espalharam, / sardinhas , carapaus e corvina, / outras espécies espalharam, / que assustou uma menina.

Pela madrugada seguinte , / de novo voltam ao mar / mas, não têm a certeza / se voltarão a pescar/ porque o mar é uma presa.

O meu nome acabou

Não chames mais por mim, / porque meu nome acabou / gastou-se até ao fim, / chegou onde chegou, / não chames mais por mim.


Tinha apenas cinco letras, /da Virgem era o seu nome, / tinha amor e pureza, / só me resta o sobnome / que guardo com delicadeza.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A vida e a morte

Mas, ó ti António, ao que se deve sua tristeza, não me quer contar?O ti António continuava sentado no poial da sua porta, curvado, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o queixo entre duas mãos sujas pelo tempo.

Ti António nada dizia. O sr. Jacinto , sentou-se a seu lado e quedou-se a olhar para quem passava.

A Aldeia tinha aí uma centena de almas. O calor abrasava.

Está calor, não está, ti António?

O seu olhar vidrado não se desviava do chão.

O compadre Ventura já tem outro neto, disse. Mais um, ele já deve de ter aí uma boa meis dúzia, não será ti António?

Não ouviu a novidade. Bem, hoje não se pode falar consigo, não está cá, nã é ?



Muitas boas tardes, ouve-se. Como vai a srª Maria. Ora, cá vou andando com as pernas cada vez mais inchadas, , já fiz por aqui uma mezinhas que me indicou a comadre Ermelinda, mas o mal está cá dentro, e só sai quando eu for para ao pé do meu Manel.



Ora, nã diga uma coisa dessas, que às vezes Deus até castiga.

Como me pode castigar, se toda a vida me fartei de trabalhar, criei os meus sete filhos, e nã criei mais porque Deus me levou quatro.

Trabalhei ali naquele monte , que o compadre conhece muito bem, e nã trabalhei mais tempo, porque depois da morte do sr. Sebastião, que Deus o guarde lá em cima, e dizendo estas palavras benzia-se ao mesmo tempo.



O pior foram os filhos, que estragaram tudo, deixaram muita gente desta Aldeia sem trabalho. Diz muito bem comadre Maria, ainda me recordo naquele dia em que o compadre Silva , num momento do diabo se atirou para dentro do poço do quintal do nosso compadre Saraiva, dalém do monte do Moinho Branco, e apontava direito ao monte.



É verdade, bom homem!

O que será dos filhos dele?

Dizem que desde que abalaram para Lisboa nunca mais cá apareceram.

Bom, vou além à venda do sr. Andrade comprar alguma coisa para o jantar.

Vá vá , e as melhoras das suas pernas. Obrigada diz a senhora já a meio do caminho.



Vê ti António, cada qual tem a sua sina!

Este, continuava na mesma posição, de cotovelos apoiados nos joelhos e cada vez mais distante!



Vá para dentro homem, vá comer qualquer coisa e vá descansar um pouco



A Aldeia já foi grande. Em tempos, teve uma escola cheia de crianças.

A Igreja enxia-se de fiéis aos domingos, hoje,apenas meia dúzia de anciões, que até já nem vão à Igreja, porque esta encontra-se fechada, já não tem conta o tempo.



As lojas fecharam quase todas, apenas restam duas das quase duas vintenas que existiam.

A loja do senhor Andrade pouco ou nada difere dos tempos em que a senhora Maria trabalhava no monte do senhor Sebastião.

Um grande balcão ao comprido, ainda com gavetas cheias de agulhas, elástico, alfinetes, molas, etc.

Na parede, numas prateleiras em madeira antiga haviavárias peças de tecido a metro.

Ao lado, no chão, algumas sacas escuras com feijão, grão e até arroz.

Tudo isto para ser vendido a pequenas porções; a Aldeia é pequena e as pessoas já não têm o mesmo puder de compra.

Talvez fosse isto que trouxesse o ti António muito triste!

A mulher tinha morrido com uma doença que nunca ninguém descobrira.

Filhos, teve dois, mas estes abalaram assim que se sentiram maiores, e poucas vezes voltaram à terra.

Até nem sabe se tem netos!



Ó senhora Clotilde, olhe que estão a chamá-la lá para os lados dos Olivais.

A mim? O que será o que me querem.

A senhora Clotilde, mulher bastante forte, não que estivesse bem alimentada, mas também porque pariu uma boa meia dúzia de moços. Trabalhou muito na lavoura, na herdade do sr dr. Antunes.

Era boa pessoa!

Tinha muita gente a trabalhar para ele, sempre teve uma palavra de simpatia para com os seus homens. E a senhora do senhor doutor, era uma santa, ela sabia como a vida era dura, pois era filha de pais com pequenas posses e também com muitos filhos. Tinha sido uma moça muito bonita.

Ainda hei-de casar contigo, dizia-lhe muitas vezes o menino João, filho do farmaceutico da Aldeia.

Ora o menino, é bem melhor não dizer asneiras, não vê que o menino não é moço para mim!

Hei-de ser, hei-de ser, vais ver.

O menino João tinha uns quatro anos a mais do que Mariana.

Foi estudar para o liceu de Beja e só regressava nas férias.

Mariana ajudava o pais na lavoura, terra arrendada, que o pai trazia no Monte do Mirante.



A senhora Clotilde estava tão pensativa que nem ouvia os gritos dos vizinhos a chamarem pelo seu nome.

Mas, porque está aquela gente a bradar por mim?

Saíu a correr. O peso do seu corto não a deixava correr muito,

O que se passa criaturas, gritou.

Foi o seu marido, o primo Anastácio que se matou! Foi no poço do compadre Figueira, estão lá outros a tentarem tirá-lo.

Ó meu Deus, eu já esperava, disse limpando o nariz

O meu sonho

Quando sonho acordada / não acredito na realidade, /mas quando sonho a dormir, / julgo que tudo é verdade.

Passeio por cima do mar / o medo não me apoquenta, /até chego a voar, /na tempestade violenta.

Vejo aves esquisitas, /que me transportam nas asas, /mas quando me vêm aflita, /depressa me poêm em casa.

Sonho com mundos diferentes, / vagueio por rochas descalça, /vejo gente que amei, /e gente que me abraça.!

Falam comigo e sorriem, / até parece que é verdade / mas quando começa o dia, / volto à realidade.!

Teus pés descalços

Esses teus pés descalços / que outrora no campo corriam / pisavam pedras e folhas / e suas pernas sorriam.

Eram fortes e destemidas / nunca tiveram sapatos, / viviam no mundo às escondidas, / dos que, te fizeram em farrapos.

Pisavam milho e trigo, /e outros cereais / pela noite dormiam contigo, / só tu ouvias seus ais.

Hoje ninguém te conhece, / tens os pés calejados, /pouco a pouco se envelhece / e o teu corpo está curvado. 1

A minha sina

Já deitei tanta lágrima / que é impossível contar / minha face / ficou salgada, como a água, / que está no mar.

Teus olhos são duas torneiras / uma de azeite, outra de vinagre / se elas fossem verdadeiras / tudo nelas seria verdade.

Do sal das minhas lágrimas / vou fazer uma salina, / são tantas as minhas mágoas / que acredito que é sina.

É sina para rir e chorar, / lágrimas que da face vão caindo, / se nasci para te amar, / a minha sina vou servindo . 1

terça-feira, 13 de maio de 2008

Chamaste-me louca

Chamaste-me louca louca,/ fingi que não ouvi, / mas os beijos da tua boca / vou guardá-los para mim.

Ficarão no meu peito / juntinhos um a um, /mas também não vejo jeito, / que fique de fora algum.

São beijos ternurentos / dados com muito amor, / o cuidado que com eles terei, / ainda será muito maior.

Podes chamar-me louca louca / que eu não vou ouvir / mas os beijos da tua boca / serão meus , enquanto existir.

A tua imagem

Desço as escadas da minha rua, / olho em redor e nada vejo / fecho os olhos, vejo a lua, / paro, e escuto a noite, / oiço vozes ao fundo.

Mas a tua voz não está lá, acordo e vejo o mundo.

A lua já se apagou, /as vozes já se calaram, / o dia já começou.

Subo de novo as escadas, / e a tua imagem por mim não passou.!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu queria ser

Eu queria ser um malmequer / branquinho ou amarelo, / ser criança e não mulher / daria meu sorriso e perfume, / faria o mundo mais belo.

Se homem assim quiser,/ teria como companhia / a rosa, o cravo, a margarida / a túlipa, o jasmim e rosmaninho, / e a terra seria mais linda.

Se planeta Terra existe, / é para ser estimado, / peço a todos os corações / que o que foi dos nossos avós,/ deixem para outras gerações.

Maria Gonçalves

Não pedi

Não pedi para nascer / apareci por amor, / minha meta é vencer / com força e sem dor / por isso quero viver /no jardim, como a flor.

Deixem-me crescer sem fim, / quero brincar e correr, / não façam pouco de mim / nasci para viver / sou eu que sou assim / não quero nunca crescer.

Quero rir e chorar / quando me apetecer / quero correr e saltar / não tenho pressa de viver / quero o mundo abraçar / não pedi para nascer.


Maria Gonçalves

Sonho

Se eu pudesse a paz / ao mundo levar, / não sei como se faz / mas continuo a sonhar.

As imagens que me mostram /as têvês e os jornais, / os homens que as provocam / não podem existir jamais.

São pessoas sem amor / separadas da humanidade, / nelas, não existe calor / mas apenas a maldade.

Matam aves, matam rios /matam todas as esperanças, /matam homens e mulheres / e o sorriso das crianças.!



Maria Gonçalves

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Um grito

Quero soltar um grito / mas um grito de revolta / meu cérebro está aflito / só vê maldade à solta.

Quero soltar um grito / já me dói a garganta / de tantos ais soltar / este mundo que me espanta / em vias de acabar / onde a maldade é tanta.

Quero um grito bem agudo / que se oiça no outro lado /que saia do fundo / do meu cérebro bem cansado / p´ra se ouvir em todo o mundo.

Outros gritos irei ouvir / mais fortes do que o meu / que façam o mundo sentir / que o que a Terra deu / não é para destruir / porque é meu e é teu.


Maria Gonçalves

O poeta não é um fingido

Dizem que o poeta é um fingido, / não concordo com o dizer / tudo aquilo que escrevo e digo /é o que sinto ao escrever / a vida, que tenho vivido!

Vejo guerras pelo mundo fora, / gritarei a minha revolta, / se vejo velhos sem abrigo / se vejo ladrões à solta / se escrevo, não é fingido !

Se vejo gente a enriquecer / sem para isso nada feito, / se vejo outros a morrer, / por falta de pão e de um leito / não posso deixar de escrever.

Vou escrevendo o que sinto / e o que vejo à minha volta / por isso não sou fingido / o que sinto é revolta / de muitos, terem nascido!.


Maria Gonçalves

Aquela casa branquinha que deixei no Alentejo

Aquela casa branquinha que deixei no Alentejo / hoje, está muito velhinha / quando a vejo não me conhece /nem sabe que já foi minha.

Era pequena e modesta, uma família abrigou / nela, todos coubemos / pais, tios, parentes , minha avó e meu avô.

Tinha paredes caiadas, / no meio, uma janela / suas portas debruadas / com riscas amarelas.

Não lhe digo que a conheci / e que já foi minha / não lhe digo que vivi / naquela casa velhinha.


Maria Gonçalves

O Modesto

O Modesto tinha nome, mas não sei se era o seu nome próprio ou alcunha. Como geralmente em todas as aldeias, há sempre um Modesto.

Figura típica, certa dificuldade em andar e no falar, o que faz com que a criançada se divirta no meio da sua inocência.

Pois no meu tempo havia um Modesto. Andrajosamente vestido, sempre com os mesmos trapos velhos a cobrir os ossos gastos pela doença, não sei se também pela idade, pois eu não sabia avaliar a idade de qualquer pessoa devido à minha idade.

Estava-mos na segunda guerra mundial. Da guerra, só ouvi falar dela anos mais tarde, visto que não havia comunicações, nem escritas nem faladas que chegassem ao Alentejo.

Da miséria , da fome e de outras privações sempre ouvi falar. Foi o motivo porque o Alentejo em poucos anos quase que ficou despovoado.!

Bem, vou falar do Modesto. Todos os sábados era hábito os mendigos que viviam algures em montes mais desviados da povoação, descerem à aldeia e baterem à porta dos mais afortunados
para assim obterem uma moeda 1/2 tostão naquele tempo.!

Se por acaso, o benemérito não tinha a moeda de 1/2 tostão, dava um tostão, mas o mendigo não podia voltar no sábado seguinte, visto que já tinha recebido adiantado.

Ora um destes pedintes era o Modesto. Era uma alegria para a pequenada, incluindo a minha pessoa, ver surgir a cabeça do Modesto numa rua que era bastante inclinada, primeiro a cabeça depois lentamente o corpo, e nós a pequenada, estava-mos numa rua mais baixa.

Era-mos muitos rapazes e raparigas todos de tenra idade.
Assim que avistava-mos o Modesto sempre com a mesma roupa, descalço, pés tortos calejados e muito sujos, era uma alegria

Mas a principal personagem desta história, é nem mais nem menos o cajado que o Modesto trazia. Era feito de pau de marmeleiro, com muitos nós e muito usado.
Sempre o conheci com aquele cajado.

Ora , quando o Modesto chegava ao topo da rua, nós gritava-mos uns para os outros : - lá vem o Modesto, lá vem o Modesto, ao mesmo tempo que gritava-mos para ele: Modesto, Modesto, não nos apanhas, não nos apanhas!

O Modesto punha-se a jeito, e ao mesmo tempo que se mordia a ele mesmo, preparava o cajado para aquilo que eu jamais esqueci e que ainda hoje me dá vontade de rir. O Modesto tinha um jeito muito especial para segurar o cajado.

Enquanto gritava-mos lá vem o Modesto, lá vem o Modesto, íamos fazendo fosquinhas na sua frente, embora afastados.

O Modesto, atirava o cajado em diagonal rentinho ao chão, e não havia canela que se salvasse. O cajado voltava à posição inicial e a miudagem na sua festa. O Modesto no seu belo estilo repetia a proeza e as nossas canelas ficavam cheias de nódoas negras e muitas vezes até sangravam!.

Nós, só nos retirava-mos depois de muito cansados, mas com a ideia de voltar-mos no sábado seguinte. Pelo meio da tarde todos os pedintes voltavam para os montes, até que surgisse outro sábado. O Modesto não era excepção. Mas nós, a criançada esperava-mos com ansiedade outro sábado.

Ainda hoje tenho a impressão que sinto as pancadas que o cajado do Modesto dava nas minhas pernas.

Mais tarde vim para Lisboa com os meus pais. Pouco a pouco, a Aldeia foi ficando deserta.
As crianças emigraram juntamente com os pais.

Ainda voltei cinco ou seis anos depois ao Alentejo. Perguntei pelo Modesto, mas ninguém soube responder. Disseram que ele nunca mais voltou à Aldeia.

Coitado do Modesto, seria a falta dos nossos sorrisos que o matou? Só Deus sabe!


Maria Gonçalves

Eu quero estar

Eu quero estar num monte /não quero aqui estar / beber a água da fonte / para meus males lavar.

Não quero estar aqui no meio da poluição, / no lugar onde nasci / é que está minha paixão.

Lá no alto no altinho, / é onde eu quero estar, naquele monte , / no montinho, quero meus males curar.

Há uma fonte correndo, pela serra verdejante, / e nela vai bebendo o mais triste caminhante.

Suas águas o consolam e força lhe dão de novo, / a esta fonte esmolam as alegrias deste povo. /

Eu quero daqui partir, o meu ultimo desejo, deixarei de sorrir, se não voltar ao Alentejo.

Maria Gonçalves

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Mulher nasci

Sou mulher, / mulher nasci, / não escolhi / podia ser uma flor / plantada num jardim / ou fruto selvagem / algures, que nunca vi

Podia ser pedra, ou montanha rochosa, / ser mar ou rio, / ou pássaro cantando ao desafio / com grilos no Estio!


Podia ser isto tudo, mas não sou / resolvi ser mulher / ocupar o espaço que me pertence / estar aqui ou noutro lugar qualquer!.


Maria Gonçalves

Sei lá

A musica parou, /meu pensamento também / já nem sei onde estou / se aqui ou além.

O horizonte está longe / tão longe que o não vejo, / eu queria tanto agarrá-lo / é esse o meu desejo.

Que toquem todas as musicas / para eu poder pensar, /que nunca mais elas parem / para o horizonte agarrar.


Maria Gonçalves

Sempre Primavera

Uma noite sonhei contigo, / que subi ao teu castelo, / não tinhas ruas nem vielas / mas o que eu vi, era tão belo / que ao acordar não queria esquecê-lo.


Sonhei que eras uma nuvem branca, / em redor, muitos santinhos / a teus pés ajoelhados, / na cabeça, flores infinitas, / pareciam o arco- íris, / mas com cores jamais vistas.


Toquei-te, da minha mão brotou uma luz / trazia calor, não me assustei / senti que era o amor.

Quando acordei, a luz desaparecera, / quis fechar os olhos de novo, / mas algo me dissera,

não foi sonho, é a Primavera!.






Maria Gonçalves

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nada sei de mim

Nada sei de mim / pergunto a quem passa / se me viu / oiço silêncio
sem fim / não sei o que faça, / nada sei de mim!.

Caminho estrada fora, / pergunto ao luar se me viu, / diz-me ao vento perguntar e sorriu /
depois de me beijar.

Já não pergunto mais / eu estarei nalgum sítio, / oiço dizer, aonde vais? / abro os olhos e vejo vendavais!

maria gonçalves
amadora

As flores do meu jardim

Se na próxima primavera / eu já não existir/diz às flores do meu jardim / que tive que partir.


Diz à roseira do quintal /que a plantei com amor / e o vermelho das suas rosas / que nunca mudem de cor.


O craveiro da janela / do meu primeiro andar / que espalhe seu perfume / a quem na rua passar.

Às violetas e malmequeres / que estão no canteiro do fim / e a todos os outros seres / que não se esqueçam de mim.


A Primavera vai voltar / irão de novo florescer /às flores do meu jardim / diz-lhes, que não fui morrer.
Amadora
Maria gonçalves

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Finalmente o dia da mãe

Hoje acordei bem disposta; durante a noite agarrada aos auriculares e juntamente com um radiozinho que tenho, fui ouvindo alguns desabafos que certas mães faziam para a rádio.

Algumas declarações impressionaram-me de verdade.

Há mães cujos filhos não lhes falam há mais de 20, 30 anos. Receberam a herança que lhes competia após a morte dos respectivos pais e desapareceram.

Outros há, que a droga lhes roubou a alegria de viver, e ficaram sem os filhos e sem saúde.

Aquelas declarações deixaram -me muito pensativa!
Era já dia da mãe embora ainda fosse noite.

Pela madrugada adentro, adormeci. Mas não foi por isso que eu acordei bem disposta.

A minha boa disposição foi que bem posso agradecer a Deus os filhos que criei!

Tive-os ainda era jovem e dei-lhes a educação que eu julgava ser a mais correta.

Felizmente que me não enganei, embora muitas vezes o mau caminho não é originário da educação que tiveram. A história é bem diferente.

Bem vamos ao meu dia da mãe.

Como sempre recordei a minha mãe , não é necessário ser dia da mãe, mas nestes dias a saudade parece ser maior.

Pelo princípio da tarde recebi via telefone os parabéns dos meus filhos, porque eles já são casados e estão nas suas casas.

Depois do almoço recebi a visita do meu filho que me veio trazer uma prenda ( uns brincos ).

Pela noitinha fui jantar com a minha filha, meu genro, minha neta e neto. Meu filho não pode ir.

A minha neta ofereceu-me um lindo ramo de margaridas acompanhado com muitos beijos e abraços. Nós somos muito beijoqueiras uma com a outra. A minha querida neta já é uma senhora e chama-se Sofia, nome grego que lhe traz muita luz.

A minha filha como é professora de yôga, ofereceu-me um livro alusivo à modalidade.

Mas o mais engraçado é que o livro veio autografado por um grande Senhor Mestre De Rose, que é o expoente máximo de sabedoria .

Fiquei feliz porque não é todos os dias e nem sempre que se tem uma prenda tão admirável!

O jantar foi muito agradável ( comida chinesa).
Terminou um pouco tarde mas valeu a pena. Assim se passou o meu dia da mãe.

Para terminar resta-me apenas um grito de felicidade e agradecimento.

Obrigado meu Deus pela família que puzeste à minha disposição.

E já agora um favor que lhe peço: ajuda todas as mães serem felizes!

Obrigada.

De ti mulher

De ti mulher, nasceu o fruto do teu amor, / mas um dia, quando pensavas que era só teu /
alguém o chamou.

Deu-lhe um número, / vestiu-lhe um uniforme / e pôs-lhe uma espingarda na mão.

Mandou-o matar com granada ou canhão. / Não importava que fosse até um irmão,

O importante era matar, para o ar, / para a direita, para a esquerda / e não olhar.

Na guerra, não se olha, obedece-se.

Sabe que ou ele ou outro, para o senhor salvar. /Depois é mandado para a mulher que lhe deu o ser, /sem um braço ou perna para correr.

E tu mulher, / que não fizeste a guerra, / que destruíram o fruto do teu amor, /não mostras as tuas lágrimas.

Mas a tua força interior , mostra como é ser Mulher!.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A minha flor

A minha flor nasce dentro de mim / tem raízes muito fortes que tocam a terra / o seu caule é forte e comprido , / as suas pétalas são de uma cor viva, /

Por vezes, a flor fecha-se nos dias mais cinzentos, / para logo de seguida receber de novo o sol que bate nela, / dando uma sensação de alegria, / o meu caule cresce ainda mais, e as raízes ficam mais fortes.

Neste jardim, existem outras flores, / umas altas, outras baixas, outras fortes e grandes, / por vezes lutam entre si, / para encontrarem lugar neste lindo jardim.

para ti minha mãe

Vou iniciar este meu blog com uma homenagem à minha mãe, visto que dentro de 2 dias se irá comemorar mais um dia da mãe.
Mãe desculpa de nunca de ter dito que gostava de ti, sempre te escrevi poemas mas talvez tu não ligasses muita importância, tinhas mais cinco filhos para dar atenção. e eu sempre pensei que não te era muito próxima, talvez por ser a mais velha das raparigas, notava em ti uma certa distância em relação à minha pessoa, mais tarde pensei que talvez fosse por ser muito parecida com o meu pai, e vocês os dois havia muito que estavam de costas voltadas, mas nós filhos, não temos culpa dos vossos erros. Lembro-me quando se aproximava o dia da mãe, que naquele tempo era no dia 8 de Dezembro, dia da nossa Senhora da Conceição, enviava-te sempre um cartão a imitar um postal ilustrado, feito de cartolina, com uma quadra feita por mim, colava um selo e enviava pelo correio. No dia da mãe era a tua prenda, visto que não tinha dinheiro para outra mais cara.
Tu eras muito fria para comigo, não me lembro dos teus beijos e abraços, talvez mos desses quando eu era de colo. Mas não estou aqui a julgar-te porque infelizmente partiste muito cedo, não me avisaste e a mim faltou-me a coragem para te dizer que te amava. Hoje penso em ti todos os dias, e dou-te razão porque a vida não foi nada fácil para contigo, quando estavas a começar a ter a vida melhor veio essa maldita doença e levou-te. Agora peço-te que olhes por mim onde quer que estejas. Acredita que eu ainda te amo. Os homens cá da terra já não festejam o dia da mãe na mesma data, lembraram-se de a passar para o primeiro domingo de Maio.
Não é mal, sempre é no mês de Maria. Não quero acabar esta minha carta sem te enviar um feliz dia da mãe como se estivesses sempre a meu lado.
Minha mãe que partiste / e de mim estás esperando /ainda te hei-de abraçar / mas só não sei quando.
Hoje é dia da mãe / como sempre te recordo, /para mim estás sempre viva, / mesmo quando durmo e acordo.
Hoje te venero / com saudade e alegria, / recebe as minhas preces / da tua filha Maria.