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sábado, 27 de junho de 2009

A praia num dia de nevoeiro

As águas do mar balançam conforme a força do vento. A praia pouco a pouco vai-se enchendo de gente . Não é aconselhável tomar banho, os banhistas já tinham colocado a bandeira vermelha, sinal que o mar está revolto.
As crianças brincam na areia, alguns mais afoitos afastam-se da mãe que logo o chama para junto de si. Passa o homem dos gelados, mãe compra um diz o pequeno. Compro, e os outros meninos também tiveram direito a um gelado.
O mar fazia algumas poças de água onde os mais pequenos brincavam , ora enchendo os pequenos baldes com água e na brincadeira molhavam os pés às respectivas mães. Também com a água que enchiam os baldes despejavam na areia seca e faziam castelos, que entretanto eram desmanchados por meninos mais crescidos e mais reguilas. O mais pequenino não conseguia encher o balde e por isso não fazia castelos.
A menina de fato de banho cor de rosa e lindas tranças louras, jogava à bola com outra menina.
Vem um rapaz com cara de mau e tirou-lhes a bola e fugiu com ela.
Um senhor que tinha presenciado a cena e como tinha uma bola a mais, ofereceu -a à menina das tranças. O choro acabou. Havia um casal que não parava de fumar e não prestava atenção ao filho. Este foi andando, andando e foi encontrado pelo banhista no outro extremo da praia O vício dos pais quase permitiu que a criança desaparecesse. Mas serviu para estarem mais atentos no futuro.
Há outro banhista que trouxe o seu animal de estimação para a praia. O cão de porte alto não parava de correr e saltar, a ponto que assustou muitos meninos e adultos.
Há uma criança que não pára de chorar porque o cão lhe roubou o biscoito que estava a comer.
Apareceu a guarda marítima e multou o dono do cão, pois não é permitido levar animais para a praia, principalmente na época estival.
O homem das bolas de Berlim apregoava, mas como estas tinham creme não houve compradores.
A Filipa é teimosa e a mãe grita-lhe: não vais para dentro de água. Ó mãe os outros meninos estão lá. Os outros não são meus filhos e a bandeira continua vermelha.
Nisto desaparece o sol, e no seu lugar cai sobre o areal um denso nevoeiro, que mal as pessoas se viam umas às outras. Vestem rapidamente as suas roupas e agasalham as crianças.
A Rita grita porque a irmã atira-lhe areia. O pai não responde , pois mesmo com nevoeiro continua deitado de barriga para o ar, e a mãe ralha.
Levanta-se com dificuldade, enrolam as toalhas depois de serem sacudidas, O pai recolhe o chapéu de sol de cores variadas, a mãe carrega com o cesto do lanche e as crianças cada qual leva as suas chinelas.
A praia fica mais vazia e o nevoeiro adensa-se.
Uma mãe chama pelo filho , pois o nevoeiro não permite que o veja, mas a criança estava a dois passos do lugar.
Lá longe no mar, há alguns surfistas que mesmo em tarde de nevoeiro não prescindem do seu desporto favorito.
Os banhistas mais teimosos recusam ir para casa , pois muitos vieram de longe e sempre há esperança que o tempo melhore.
Há uma criança que perde um sapato e teve que regressar com um sapato a menos. O bebé
deixou caír a xuxa, mas com o nevoeiro não foi possível encontrá-la, adormeceu de tanto chorar.
Se regressarem no próximo domingo, pode ser que já nem se lembrem do nevoeiro, e haverá mais peripécias para contar. Até lá.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Há sempre um dia bom

O João andava por maus caminhos, e nem os conselhos da mãe e os ralhos do pai o fazia recuar.

Levantava-se tarde sempre com desculpa do que estava doente. A mãe fingia acreditar para não se exaltar mais, visto que o médico a tinha avisado para ter cuidado com o coração.

O pai regressava tarde quando o dia já tinha acabado e a noite se aproximava.
Então o rapaz foi trabalhar?

A mãe tremia que nem varas verdes, a cor da face avermelhava-se e lá respondia trémulamente que não.
E agora onde está?
Saiu depois do jantar.
Já a noite acabava e se aproximava a luz solar, quando o João entra em casa.

O pai esperava-o sentado num banco de cozinha. De vez em quando a sua cabeça pendia para o peito, e o homem lá acordava pensando no que estaria ali a fazer. Tinha que retomar o trabalho dali a poucas horas.

Sentiu a porta abrir-se.
De pé e com o dedo indicador no ar, aponta-lhe a porta por onde ele tinha entrado: rua, diz ele.

João não contava com esta atitude do pai. Que o pai não andava muito feliz com o filho, ai isso não andava.

Rua , repetia, ao mesmo tempo que lhe dava uma grande bofetada. A mãe, no interior da casa nada dizia, apenas chorava diante de uma imagem da sua santinha preferida e pedia-lhe para que o marido não fizesse uma coisa daquelas!

Já era tarde. O rapaz já tinha saído.

Onde estará ele? Não sei, mas se tu não deixas de suplicar aos teus santinhos, ainda vais pelo mesmo caminho.
Joaquina agarrou-se às pernas do marido e suplicou.

Naquela noite, José não se deitou seguiu directamente para o trabalho.

O chefe, um homem alto, de óculos escuros, barriga saliente, bigode fininho a condizer com os lábios, pergunta: sr. José está doente?

Não senhor Mendes. Mas olhe, parece que sim, porque o senhor José está a tremer e com a cara pálida.

Não é nada.

Não se conteve e duas lágrimas caíram pela sua face.

Venha ao meu gabinete, disse.

Sente-se, vou mandar vir uma água e vou lá para fora enquanto o senhor descansa. Pode chorar à vontade porque não fica mal um homem chorar.

Senhor Mendes puxou por uma cadeira e aproximou-se dele.

Senhor José já está mais calmo? Agora se quizer contar, conte.

Mas então se o seu filho tem esse comportamento temos que arranjar solução para ele. Mas como?

Senhor José, veja se o consegue trazer até cá.

Trazê-lo aqui, mas como e para quê? Vai ver senhor José, traga-o cá nem que seja obrigado!

O rapaz está? Está a dormir, ele veio tarde como sempre.
Vai acordá -lo. Mas como, se ele se fechou no quarto e não quer ouvir ninguém.

Abre essa porta rapaz, estás a ouvir? Se não a abres rebento-a a pontapé. E dizendo isto, começou aos murros e pontapés na porta. Abres ou não? A porta abriu-se, o que quer?

Quero saber por onde andaste a noite passada? Responde porque o caso pode piorar. Andei com uns amigos. E quem são esses amigos? São uns rapazes que conheci aí na rua.

Ah, só porque os conheceste na rua já são teus amigos? E as pessoas que tens aqui dentro de casa o que são?

João mantinha-se calado. O que são as pessoas que tens aqui em casa? Responde. Esperou uns segundos, e agarrando-se ao pescoço do pai e soluçando pedia a este perdão.

Não foram precisos mais sermões. No dia seguinte senhor José apresentou o filho ao senhor Mendes. Levava outro semblante. Senhor Mendes notou a alegria daquele homem, chamou o jovem ao seu gabinete e perguntou: queres ser um homem honrado como o teu pai? O jovem sentiu-se envergonhado, e abanando a cabeça como a dizer que sim . Bem, então amanhã vens com o teu pai à hora do costume, vais ser meu empregado.

A figura do senhor Mendes até já não era tão feia, aquele bigode fininho por cima de uns lábios igualmente fininhos até tinham a sua graça. Os olhos reluziam como duas pequenas azeitonas.

Finalmente consegui tirar este rapaz da rua, pensou.

Nessa noite, eram quatro a dormir que nem uns justos. Senhor José, finalmente tinha o seu filho com uma alma nova em casa.

Senhor Mendes agradeceu a Deus por lhe ter dado forças para salvar um jovem que tinha a idade do seu filho.