sábado, 27 de junho de 2009
A praia num dia de nevoeiro
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Há sempre um dia bom
O chefe, um homem alto, de óculos escuros, barriga saliente, bigode fininho a condizer com os lábios, pergunta: sr. José está doente?
Não senhor Mendes. Mas olhe, parece que sim, porque o senhor José está a tremer e com a cara pálida.
Não é nada.
Não se conteve e duas lágrimas caíram pela sua face.
Venha ao meu gabinete, disse.
Sente-se, vou mandar vir uma água e vou lá para fora enquanto o senhor descansa. Pode chorar à vontade porque não fica mal um homem chorar.
Senhor Mendes puxou por uma cadeira e aproximou-se dele.
Senhor José já está mais calmo? Agora se quizer contar, conte.
Mas então se o seu filho tem esse comportamento temos que arranjar solução para ele. Mas como?
Senhor José, veja se o consegue trazer até cá.
Trazê-lo aqui, mas como e para quê? Vai ver senhor José, traga-o cá nem que seja obrigado!
O rapaz está? Está a dormir, ele veio tarde como sempre.
Vai acordá -lo. Mas como, se ele se fechou no quarto e não quer ouvir ninguém.
Abre essa porta rapaz, estás a ouvir? Se não a abres rebento-a a pontapé. E dizendo isto, começou aos murros e pontapés na porta. Abres ou não? A porta abriu-se, o que quer?
Quero saber por onde andaste a noite passada? Responde porque o caso pode piorar. Andei com uns amigos. E quem são esses amigos? São uns rapazes que conheci aí na rua.
Ah, só porque os conheceste na rua já são teus amigos? E as pessoas que tens aqui dentro de casa o que são?
João mantinha-se calado. O que são as pessoas que tens aqui em casa? Responde. Esperou uns segundos, e agarrando-se ao pescoço do pai e soluçando pedia a este perdão.
Não foram precisos mais sermões. No dia seguinte senhor José apresentou o filho ao senhor Mendes. Levava outro semblante. Senhor Mendes notou a alegria daquele homem, chamou o jovem ao seu gabinete e perguntou: queres ser um homem honrado como o teu pai? O jovem sentiu-se envergonhado, e abanando a cabeça como a dizer que sim . Bem, então amanhã vens com o teu pai à hora do costume, vais ser meu empregado.
A figura do senhor Mendes até já não era tão feia, aquele bigode fininho por cima de uns lábios igualmente fininhos até tinham a sua graça. Os olhos reluziam como duas pequenas azeitonas.
Finalmente consegui tirar este rapaz da rua, pensou.
Nessa noite, eram quatro a dormir que nem uns justos. Senhor José, finalmente tinha o seu filho com uma alma nova em casa.
Senhor Mendes agradeceu a Deus por lhe ter dado forças para salvar um jovem que tinha a idade do seu filho.