visitantes

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Há sempre um dia bom

O João andava por maus caminhos, e nem os conselhos da mãe e os ralhos do pai o fazia recuar.

Levantava-se tarde sempre com desculpa do que estava doente. A mãe fingia acreditar para não se exaltar mais, visto que o médico a tinha avisado para ter cuidado com o coração.

O pai regressava tarde quando o dia já tinha acabado e a noite se aproximava.
Então o rapaz foi trabalhar?

A mãe tremia que nem varas verdes, a cor da face avermelhava-se e lá respondia trémulamente que não.
E agora onde está?
Saiu depois do jantar.
Já a noite acabava e se aproximava a luz solar, quando o João entra em casa.

O pai esperava-o sentado num banco de cozinha. De vez em quando a sua cabeça pendia para o peito, e o homem lá acordava pensando no que estaria ali a fazer. Tinha que retomar o trabalho dali a poucas horas.

Sentiu a porta abrir-se.
De pé e com o dedo indicador no ar, aponta-lhe a porta por onde ele tinha entrado: rua, diz ele.

João não contava com esta atitude do pai. Que o pai não andava muito feliz com o filho, ai isso não andava.

Rua , repetia, ao mesmo tempo que lhe dava uma grande bofetada. A mãe, no interior da casa nada dizia, apenas chorava diante de uma imagem da sua santinha preferida e pedia-lhe para que o marido não fizesse uma coisa daquelas!

Já era tarde. O rapaz já tinha saído.

Onde estará ele? Não sei, mas se tu não deixas de suplicar aos teus santinhos, ainda vais pelo mesmo caminho.
Joaquina agarrou-se às pernas do marido e suplicou.

Naquela noite, José não se deitou seguiu directamente para o trabalho.

O chefe, um homem alto, de óculos escuros, barriga saliente, bigode fininho a condizer com os lábios, pergunta: sr. José está doente?

Não senhor Mendes. Mas olhe, parece que sim, porque o senhor José está a tremer e com a cara pálida.

Não é nada.

Não se conteve e duas lágrimas caíram pela sua face.

Venha ao meu gabinete, disse.

Sente-se, vou mandar vir uma água e vou lá para fora enquanto o senhor descansa. Pode chorar à vontade porque não fica mal um homem chorar.

Senhor Mendes puxou por uma cadeira e aproximou-se dele.

Senhor José já está mais calmo? Agora se quizer contar, conte.

Mas então se o seu filho tem esse comportamento temos que arranjar solução para ele. Mas como?

Senhor José, veja se o consegue trazer até cá.

Trazê-lo aqui, mas como e para quê? Vai ver senhor José, traga-o cá nem que seja obrigado!

O rapaz está? Está a dormir, ele veio tarde como sempre.
Vai acordá -lo. Mas como, se ele se fechou no quarto e não quer ouvir ninguém.

Abre essa porta rapaz, estás a ouvir? Se não a abres rebento-a a pontapé. E dizendo isto, começou aos murros e pontapés na porta. Abres ou não? A porta abriu-se, o que quer?

Quero saber por onde andaste a noite passada? Responde porque o caso pode piorar. Andei com uns amigos. E quem são esses amigos? São uns rapazes que conheci aí na rua.

Ah, só porque os conheceste na rua já são teus amigos? E as pessoas que tens aqui dentro de casa o que são?

João mantinha-se calado. O que são as pessoas que tens aqui em casa? Responde. Esperou uns segundos, e agarrando-se ao pescoço do pai e soluçando pedia a este perdão.

Não foram precisos mais sermões. No dia seguinte senhor José apresentou o filho ao senhor Mendes. Levava outro semblante. Senhor Mendes notou a alegria daquele homem, chamou o jovem ao seu gabinete e perguntou: queres ser um homem honrado como o teu pai? O jovem sentiu-se envergonhado, e abanando a cabeça como a dizer que sim . Bem, então amanhã vens com o teu pai à hora do costume, vais ser meu empregado.

A figura do senhor Mendes até já não era tão feia, aquele bigode fininho por cima de uns lábios igualmente fininhos até tinham a sua graça. Os olhos reluziam como duas pequenas azeitonas.

Finalmente consegui tirar este rapaz da rua, pensou.

Nessa noite, eram quatro a dormir que nem uns justos. Senhor José, finalmente tinha o seu filho com uma alma nova em casa.

Senhor Mendes agradeceu a Deus por lhe ter dado forças para salvar um jovem que tinha a idade do seu filho.



Nenhum comentário: