A mãe bem lhe dizia: António sai aí de cima , olha que um dia cais e partes a cabeça!
Todos na aldeia sabiam que o António era o mais teimoso e mal comportado!
Na escola, o professor, raro era o dia que não lhe dava umas palmatoadas.
Não queria aprender nada na escola, pois a rua e o campo eram os seus mestres.
Conhecia todos os pássaros, sabia todos os seus nomes. Também conhecia toda a espécie de caça
principalmente os coelhos, pois até os apanhava à mão. Nesses dias, a mãe tinha algo para jantar
e então o António era muito elogiado pela família que era numerosa; todos os outros rapazes não
se juntavam ao António . Eram avisados pelas respectivas mães que não podiam andar com o
ele porque não era boa companhia. Coitado do António pagava pelas que fazia e pelas que não fazia!
Um dia, apareceu um vidro da escola partido, e quem foi? O António, pois claro!
O professor chamou-o ao quadro e no meio da aula replecta de alunos ordenou-lhe que esticasse as mãos; o António ainda tentou escondê-las atrás das costas, mas o professor figura muito alta e com muitas aulas dadas a muitas gerações, agarrou nas mãozitas do rapaz e deu-lhe mais meia dúzia de reguadas em cada mão!
Não sais daqui , grita o professor, vais ficar em pé virado para os teus colegas até a aula acabar.
Os colegas riam-se tapando a boca para o professor não reparar.
O Varela ria-se e dizia para os outros: fui eu que parti o vidro , mas foi bacano ele levar!
Naquele dia o António disse à mãe que não queria voltar à escola. Tens que ir meu filho, olha para a tua irmã Maria que é a melhor aluna e gosta de andar na escola.
Pele noitinha, o sr . Marques, pai do António dava-lhe conselhos: filho, não queiras ter o destino que eu tive, comecei a trabalhar muito cedo e acabei por não aprender a ler!
Mas pai, o professor bate-me por tudo e por nada!
Amanhã vou falar com o professor. Não vale a pena pai, ele não vai compreender!
António faltou à escola e como não apareceu em casa , a mãe foi saber o que se passava.
As piores informações recebeu a senhora Maria.
Não pode ser senhor professor: o meu filho é como os outros.
Olhe senhora Maria, o melhor é a senhora pôr o seu filho a trabalhar com o pai e tirá-lo da escola!
António nunca mais foi à escola, mas a sua reputação andou sempre como andava.
Continuava a assaltar ninhos e com os ovos a mãe cozinhava-os para comerem.
Não ia com o pai, pois trabalho não havia para ele quanto mais para um rapaz daquela idade.
Um dia, apareceu um rapaz com a cabeça partida , dirigiu-se ao professor e acusou o António.
Este, mandou-o chamar , pediu-lhe as mãos e por mais que o rapaz gritasse mostrando a sua inocência, o professor não resistiu.
O causador daquela acto não parava de rir , e quando saíram, o António deu-lhe tantas que ele nem respondeu.
Sabendo o professor do acontecimento, mandou chamar os dois e soube que afinal o António era inocente. Convidou-o a voltar à escola mas este recusou. Também ficou a saber que o vidro da janela tinha sido o Varela quem o partiu.
António continuou a viver sem amigos, mas avida do campo era tudo para ele. Além dos pássaros também conhecia todas as espécies de árvores . Era com elas que gastava todas as suas energias, comia dos seus frutos e levava para casa.
Cresceu e continuava a não ter amigos.
Como ele andava sempre na rua, algumas senhoras mais abastadas pediram ao António senão se importava de lhes fazer alguns recados
E assim começou o António a ser moço de recados. desempenhava muito bem e com alguma vaidade o seu novo ofício.
Um dia, os seus antigos colegas de escola com muita inveja, resolveram pregar-lhe uma partida.
Esperaram por ele à saída da mercearia e tiraram-lhe tudo o que ele levava.
Por mais que o António chorasse e jurasse o que tinha acontecido ninguém o acreditava.
Mais uma vez o professor o chamou à escola e lhe pediu as mãos.
Ao mesmo tempo que chorava e dizia que estava inocente o professor não acreditou, e o castigo veio em seguida.
Os colegas não se cansavam de rir e por uma coisa que não fez, as senhoras da aldeia prescindiram dos seus serviços.
Voltou ao campo para junto das árvores suas amigas.
Mas nem tudo é azar na vida de uma pessoa.!
Uma vizinha que tinha presenciado o roubo das coisas que o António tinha ido comprar para a senhora dona Mariana e embora o seu filho estivesse metido no assalto, encheu-se de coragem e foi falar com o professor.
Bom dia senhor professor, disse; Bom dia senhora Joaquina, deseja alguma coisa?
Desejo sim, senhor professor.
Meninos podem sair para a senhora Joaquina falar comigo,
Não , senhor professor , eu quero que os seus alunos me oiçam.
Com um aceno os alunos voltaram a sentar-se.
Senhor professor, há já algum tempo que era para vir aqui falar-lhe, mas havia algo que me dizia para não vir.
Diga senhora Joaquina, diga.
Então lá vai, lembra-se daquelas palmatoadas que deu ao António por este ter tirado as compras à senhora dona Mariana?
Sim. E o que tem a senhora Joaquina com isso?
Tenho sim senhor professor, é que não foi ele.
Neste momento os alunos coraram todos ao mesmo tempo!
Não foi ele? Não, não foi.
E quem foi? O meu filho, e os outros.
Como sabe? Eu estava à janela e vi. E só agora é que vem dizer?
Senhor professor eu não disse porque o meu filho está metido nisto, e depois de tanto pensar achei que o António não podia ser mais castigado por coisas que não fêz.
Então meninos o que dizem? Todos se calaram. Se calhar não foi o António que partiu o vidro e nem partiu a cabeça ao Julião!
Se ninguém se acusar vão todos apanhar o respectivo castigo.
Como ninguém se acusou, o professor deu meia dúzia de palmatoadas a cada aluno.
Na aldeia, toda a gente ficou a saber que afinal o António não era o pior de todos.
Dona Mariana ficou a saber do sucedido e passou a confiar novamente no António, assim como todas as outras senhoras.
O professor ainda tentou que o António voltasse de novo à escola, mas este quis continuar como moço de recados.
Aos colegas da escola, António esqueceu-os!