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domingo, 2 de novembro de 2008

Brilhante é o sol

Brilhante é o sol,
a lua mais apagada,
as cores do girassol
são de uma côr amarelada.

Passas a correr na minha rua
com teus passos apressados,
se pensas que serei tua
estás muito mal enganado.

A água do mar é salgada,
mas sem sal não seria mar,
também salgadas são as lágrimas
quando te vejo chorar!

O coração não dói,
dizem os sabedores,
às vezes dói e dói muito
por desgosto de amores.

Um desgosto de amor
mal de quem os não tem,
não há dor maior
que perder o amor de alguém.

O amor nasce e morre,
não é definitivo,
quando pensamos que o temos
já passou para o inimigo!

Se ouvires um pássaro cantar,
e for já noite cerrada,
abre a janela de par a par,
traz notícias da tua amada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A lágrima

A lágrima que te vi chorar / com tanta dor e tristeza, / estive para a apanhar, / mas se ela rolou não foi por mim de certeza.

Há muito que por mim não choras, / também eu não merecia / até já não sei onde moras, / tudo se apagou naquele dia!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

S. Martinho

S. Martinho passou um dia
à porta da minha aldeia,
trazia barriga vazia
e na mão uma candeia.

Ao passar por uma porta
logo esta se abriu,
S. Martinho ajoelhou-se
e alguém lhe sorriu.

Pão e amoras foi servido,
e a fome saciou,
S. Martinho agradecido
a minha aldeia abençoou.

Na hora da despedida,
agradeceu as maneiras,
À aldeia deu o seu nome,
e de tanta amora comer
acrescentou, Amoreiras.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

The new jet set

O vestido que tu usas
todo feito de organdim,
não consegue tapar
o veneno que há em ti.

Teu chapéu de cambraia,
a dizer com o vestido,
mas se te cai a saia,
mostra logo o umbigo.

Não é por bem trajar
um vestido de cambraia,
que tu serás melhor
do que quem tem só uma saia.

Os teus sapatos altos,
também de seda forrados,
se cais, partes os saltos,
mostras teu pés calejados.

Anda, veste normalmente,
não gastes tanto dinheiro,
nem sempre o mais caro
é o que fica em primeiro.

Desce desse pedestal
e põe os pés no chão,
em vez de ricas sedas
utiliza o algodão!

A tua imagem

Desço as escadas da minha rua,
olho em redor e nada vejo,
fecho os olhos, vejo a lua.
Paro e escuto a noite.
Oiço vozes ao fundo,
mas a tua voz não está lá.
Acordo e vejo o mundo,
a lua já se apagou,
as vozes já se calaram,
o dia já acordou,
subo de novo as escadas
e a tua imagem
por mim, não passou.!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para ti Odemira

Meu concelho é Odemira
foi lá que eu nasci,
por isso não admira
que fala tanto de ti.
Como Concelho és o maior
que existe em Portugal,
viajando por ti em redor
vejo belezas sem igual.
Tens o Mira como filho
á tua porta ele passa,
rega o trigo mais o milho,
e vai deixando a sua graça.
Suas lágrimas são caudais,
que pelo Alentejo correm,
para trás não voltam mais,
umas nascem outras morrem.
Pelo caminho vai regando
os campos seus vizinhos,
a todos cumprimentando,
e acena aos passarinhos.
Quando do mar se aproxima,
pede a este um desejo,
não desvies o meu caminho
porque sou do Alentejo!

domingo, 19 de outubro de 2008

Quando te deixei Alentejo

Quando te deixei Alentejo,
não sabia o que era a saudade,
agora que o tempo passou
posso dizer de verdade
que a saudade em mim morou!

Alentejo tão grande e distante,
ensinaste-me o que era a saudade,
ao deixar -te desconhecia
que a saudade é fogo que arde
juntamente com a nostalgia!

Sinto saudades dos teus campos
das searas de louro trigo,
das águas frescas das fontes
de alguém, de um amigo
que deixei nesses teus montes.

Até do sol tenho saudades,
e das cantigas que aprendi,
foste tu que me ensinaste
que quando o Alentejo canta
é a saudade que mora em ti!

Serias tu Alentejo
com os teus mornos cantares,
anda diz-me a verdade,
não vale a pena ocultares,
inventaste a Saudade?

Subi serras

Subi serras, escalei montes
parei para escutar
as melodias das fontes
só para te abraçar.

Do alto do teu castelo
no centro o casario,
aos teus olhos o mais belo
são as searas no Estio,

Crescem verdes e douradas,
são elas que nos dão o pão,
por ti são abençoadas
linda princesa de Marvão.

Marvão és a vigia
do alto do pedestal,
guardas noite e de dia
as terras de Portugal.

Também és terra raiana,
não te enchas de vaidade,
sê sempre Alentejana
não percas a nacionalidade.

Dedicado a Marvão ( Estou no meu meio )

Por ti passei um dia,
visitei e subi ao teu castelo,
cumprimentei -te e sorriste ,
a tua mão apertei
mataste a minha sede ,
talvez não me visses,
eu era ninguém no meio de tanta gente.
fazia calor,
na sombra das tuas árvores me refresquei.
Pisei as pedras da tua calçada, sorriram,
contaram-me a tua história,
oh, como é bela!
Por ti fiquei enamorada,
Afinal Alentejo é isto,
suas belezas, campos de louro trigo,
papoilas a balançarem no seu seio.
Finalmente eu digo;
obrigada Marvão,
estou no meu meio!

Eu quero estar

Eu quero estar num monte / não quero aqui estar / beber a água da fonte / p/ra meus males lavar.
Não quero estar aqui / no meio da poluição / no lugar onde nasci / é que está minha paixão.
Lá no alto no altinho / é onde eu quero estar,/ naquele monte, no montinho / quero os meus males curar.
Há uma fonte correndo / pela serra verdejante, / e nela vai bebendo / o mais triste caminhante.
Suas águas o consolam / e força lhe dão de novo / a esta fonte esmolam / as alegrias deste povo.
Eu quero daqui partir / o meu último desejo, / deixarei de sorrir / senão voltar ao Alentejo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quem te disse

Quem te disse Alentejo / que és um povo pobre e triste, / talvez fosse a brincar, / tu não respondeste, ris-te / só estavam a mangar !

Não és pobre nem triste, / porque tens a grande riqueza, / de veres o trigo crescer, / e o pão da tua mesa , / fizeste para o merecer.

Trabalhas de manhãzinha / com a frescura do vento, / descansas pela tardinha, / retemperas o alento / e voltas pela noitinha.

Tua riqueza é a liberdade, / que encontras nesses teus montes, e podes gritar à vontade / que todos os vales e montes / sentirão a tua humildade.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Já me não pegas na mão

Já me não pegas na mão, / quando a rua atravesso, / um vai à frente, outro atrás / estás virado ao avesso.
O tempo vai passando / a memoria vamos perdendo, / Talvez assim seja melhor, / e pouco a pouco vamos morrendo.
O amor quando é falso / nota-se no primeiro beijo, / sobe-se ao cadafalso / e não se sente desejo.
Mas quando é verdadeiro, / nota-se logo à partida / aquele primeiro beijo, / não se esquece toda a vida.

Longe vai o dia

Longe vai o dia, em que te conheci /atravessavas uma rua / quando olhei para ti.
Teus olhos me olharam / com muito brilho e luz, /quase que me encandeavam / quando no chão os pés pus.
Seguraste a minha mão, / para eu não cair, / nem olhei para o chão / e dei contigo a sorrir.
Sorriso gaiato e maroto, / nos quais eu acreditei , / mas a vida pouco a pouco / me disse, que me enganei.
Agora não posso voltar, /para traz é impossível / aquele sorriso de então, existe, / mas é invisível.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O cheiro da terra

Já lá vão muitos anos desde o dia que te deixei. Não sabia que essa separação seria muito dolorosa para mim. Para trás, deixei a família que muito amava, principalmente a minha avó. Comecei a sentir a falta dos seus ralhos e dos seus mimos.
Até do pão que ela cosia eu tinha saudades, não havia pão em Lisboa que me soubesse bem. Sonhava com ela todos os dias!
Eu era menina, tinha apenas 10 anos! Nunca tinha saído do Alentejo. Em Lisboa sentia-me perdida, não sabia caminhar, não sabia falar e quase ninguém entendia o meu forte sotaque Alentejano . Sentia-me apertada, assim como apertada esteve a minha voz durante muitos anos.
Ia tendo notícias da família. De início, eu ia escrevendo várias vezes aos parentes mas sempre com ansiedade de saber notícias da minha avó.
Passaram seis dolorosos anos. Finalmente voltei ao Alentejo para umas curtas férias.
Abracei a minha avó com muita força, como que a compensá-la pelo tempo perdido. Era uma mulher muito bonita ! Adorava-me e eu recompensava-a com algumas traquinices!
Essas minhas férias foram como se Deus me tivesse aberto as portas do Paraíso!
Agora podia gritar à vontade, ninguém me mandaria calar, como muitas vezes me fizeram em Lisboa!
Voltei de novo à fonte com a minha avó, ajudei-a a carregar as infusas cheias de água fresca.
Também voltei a comer do seu pão!
Falei com todos os parentes e amigos. Perguntei pelo meu pai. Responderam-me que uns homens o tinham levado e que não voltaria tão cedo. Anos mais tarde fiquei a saber qual o local para onde o tinham levado !
Revivi os tempos antigos. Falei e adorei ver de novo a professora.
A aldeia estava na mesma. As mesmas vendas, a farmácia , o mesmo farmacêutico, o mesmo ferrador, o mesmo albardeiro, que por acaso era meu tio. Bom homem, pequenino e muito trabalhador. Cheguei a vê-lo com sacos cheios de trigo direito ao moinho que ficava no alto de um monte. No regresso, no seu lugar, trazia a farinha com a qual a minha avó fazia o tal pão saboroso que eu tanto falo.
Voltando às minhas curtas férias. Era Julho! As ceifas estavam feitas; já não havia papoilas, mas os grilos ainda cantavam. Todas as tardes percorria os montes, aqui e ali ia colhendo um raminho de urzes, giestas e rosmaninho.
Aproximou-se o dia do regresso. Nessa noite não dormi e chorei. Ia deixar de novo a minha avó.
Esta esteve sempre calada, nada dizia. Mas eu pressenti que já era a saudade que não a deixava falar. Dei-lhe um grande abraço e disse-lhe: adeus avó, vou para Lisboa. Ela virando a cara não permitiu que eu a beijasse, para que não visse uma lágrima furtiva que lhe tinha saltado dos olhos.
Montaram-me num burro, e levaram-me à estação da CP. Enquanto a visibilidade o permitia eu ia acenando à minha avó que se mantinha sentada no poial da sua porta.
Nunca mais a vi!
Voltei ao Alentejo anos mais tarde. Fiquei de novo na casa da minha avó, agora mais vazia.
A aldeia estava mais bela e acolhedora como sempre.
As pessoas já não são as mesmas, algumas já partiram.
As gentes foram desaparecendo, as searas foram substituídas por eucaliptos.
as suas fontes secaram. E aquele moinho onde o meu tio trocava o trigo pela farinha, já me não conhece, está morto ! As suas velas foram arrancadas pelo vento, o seu caminho já ninguém passa por ele.
Na Aldeia, porta sim porta não, uma está fechada!
Mas o cheiro, o tal cheiro a terra quente, ainda lá está.
Está , porque eu sinto-o !

sábado, 2 de agosto de 2008

Sou mulher

Sou mulher, mulher nasci,
não escolhi , podia ser uma flor
plantada num jardim,
ou fruto selvagem algures,
que nunca vi.

Podia ser pedra
em montanha rochosa,
ser mar ou rio,
ou pássaro cantando ao desafio
com grilos no Estio.

Podia ser isto tudo,
mas não sou,
resolvi ser mulher,
ocupar o espaço que me pertence,
estar aqui,
e não noutro lugar qualquer!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Minuto zero

Minuto zero nasci,
minuto um chorei,
e a partir daí
nunca mais parei.

Minha mãe me amamentou
enquanto comer não sabia,
com amor me tratou,
fosse de noite ou de dia.

Quando comecei a andar,
minha mãe me amparava,
quando caía ao chão
logo ela me apanhava.

Dizia ela a sorrir,
não chores, não foi nada
foi apenas um susto,
e eu logo me calava.

Não chores dizia ela,
como toda a mãe o diz,
eu ficava calada
e sentia-me feliz.

O calor de uma mãe,
o melhor que nós temos,
se vivemos sem um pai
sem mãe não vivemos!

Não quero saír daqui

Não quero sair daqui,
não vou p/ra nenhum lugar,
foi aqui que nasci
não vou agora mudar.

Quero estar sempre aqui,
até ao dia final,
foi aqui que aprendi
tuas modas cantar,
e tua gente conheci.

Não me quero mudar,
foi aqui que gritei
quando os vi passar,
meu pai eles levavam
que era para ensinar.

Que mesmo de boca aberta
não era para falar,
foi aqui que esperei
que um dia ele voltasse.

As vozes que escutei,
por muito que escutasse
as lágrimas que derramei,
não havia quem as enxugasse.

Por isso, quero estar aqui,
mas, se um dia me levarem,
ponham-me num sítio bem alto,
à volta, cravos, rosas e poejo.

Quero sentir o cheiro
do meu Alentejo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

A minha flor

A minha flor nasce dentro de mim, / tem raízes muito fortes que tocam a terra, / o seu caule é comprido / e as suas pétalas transparentes como a água que jorra na serra.

Por vezes, a flor fecha-se nos dias mais cinzentos / para logo de seguida receber de novo o sol, / que bate nelas, dando uma sensação de alegria. / O meu caule cresce ainda mais que por vezes penso ser um girassol.

Neste jardim, existem outras flores, / umas altas, outras baixas, outras fortes e grandes, / por vezes, lutam entre si, /todas querem um lugar neste jardim.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Quadras soltas

Ano a ano vamos passando / cada vez mais idosos / mas o tempo que gastamos / torna-nos mais formosos.

Toda a idade é bela / mas a terceira não fica atras / quanto mais a percorremos / mais nos sentimos capazes.

Ser jovem não está na idade / está no nosso coração / vamos dando passos em frente / sem perder-mos a razão.

Nossas caras enrugadas / nossas mãos envelhecidas / vamos indo pelas estradas / que se atravessam na nossa vida.

Têm seixos e calhaus / que desviamos com o andar / nem todos são tão maus / mas às vezes, dão que pensar.

Desta vida muito eu espero / apesar daquilo que já vivi / não entra em mim o desespero / nem quero saber do que sofri.

Quero pular e saltar / embora com dificuldade / quero continuar a amar /porque o amor não tem idade.

Quando olhas para mim / quase me encandeias / o amor não tem fim / pois corre nas minhas veias.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Olhos negros

Aquela praia de areia preta, / como eu nunca vi, / lembro-me a cor dos olhos /que numa noite de verão eu conheci.

Somente a lua brilhava, / pareciam dois faróis, / a iluminar a calçada.

Por eles fiquei perdida, / redondos como a lua,/ mas depois fiquei sentida, / quando sobe que não era tua.

Restou-me a areia da praia, / nela me deitei, / e ali sósinha e triste, / meus cantares entoei !.

O luar fez-me companhia / e ouviu as minha mágoas, / mas quando rompeu o dia, / tinham ido com as águas.

Deixem-me ser eu

Porra! Não posso dizer nada, / que sou logo censurada, /se abro a boca para falar, / dizem-me p´ra fechar.

Se olho para a direita , / não é sítio para olhar, / se riu, ninguém sabe porquê , / mas não choro, / seria adivinhar a lágrima do meu olho.

Se pergunto porqûe, / é porque sou intrometida, / gaita, já não sei o que fazer / à minha vida!

Se não concordo, / sou antiquada, frustrada, / se dou, é a minha obrigação, / se não dou, / quero levar tudo para o caixão.

Porra, deixem-me dizer uma palavra, / deixem-me SER EU!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Entrou a felicidade

A porta abriu, olhei e perguntei, / quem é? / O maior silêncio se ouviu. / Fui pé ante pé,
Tornei a perguntar, / não ouvi resposta, / seria o vento a soprar? / A porta mais se abria.

Senti algo no meu corpo / um frio o percorreu / parecia que estava morto / em pouco tempo arrefeceu.

Quis mexer-me e minha voz soltar / a porta estava aberta / mas, ninguém vi entrar.

Quem está aí? / Voltei a perguntar. / Resposta não ouvi / solucei, parei de chorar.

Levei as mãos à cabeça / deixei os olhos secar / não tinha pressa / uma brisa senti no ar.

Segredou-me ao ouvido, / não tenhas medo, / sou a felicidade / que vem morar contigo.

Se eu gritar.......

Se me vires gritar / não perguntes porquês / se me vires chorar / finge que me não vês.
Passa adiante / segue o teu caminho / o meu, é errante, / sei qual é o meu destino.

Por favor não me distraias / sei aonde irei, / mesmo a chorar, ou mesmo a gritar / não volto por onde passei.

Aquele chão já está pisado, / agora caminho para outro lado, / para trás é que não, /não teria qualquer perdão / se para trás voltasse / ou se o mesmo chão pisasse.

Caminho por cima das pedras, / mesmo que elas meus pés cortem / por frente encontrarei um rio, / lavarei minhas feridas, / sei que irei sentir frio, / minhas passadas não foram perdidas.

Vou parar de gritar / podes perguntar porquê, / já não vou chorar, /aqui ninguém me vê / pelos mesmos caminhos / não vou jamais passar !.

Esse teu passo apressado

Quando por ti passo perto / e vejo a tua vaidade / muita gente pensa decerto / que tudo em ti é verdade!

Teu olhar arrogante e triste / nos teus óculos escondido, / lembras algo que não existe / e que não tenhas vivido.

Passas apressada correndo / como se a rua fosse tua, / mas doutros também é / o mesmo sol e a mesma lua.

Quando por ti passar / alguém que te conheça / não custa cumprimentar, / não lhe vires a cabeça.

Com um sorriso modesto, / estende-lhe a tua mão, / e assim com esse gesto / é como lhe desses pão!

terça-feira, 3 de junho de 2008

O dia do trabalhador

Naquele dia, o ti José estava triste. Algo sentia, parecia que tinha uma espinha encravada na garganta. Chorar, não podia, pois foi-lhe ensinado assim que começou a gatinhar , que um homem não chora; até já nem se lembra se algum dia chorou.

Ah, lembra-se agora, que sim, naquele dia tão distante, quando lhe vieram dizer que o pai tinha morrido!
Correu para trás da casa e aí sim , aí chorou bastante.
Limpou apressadamente os olhos aos punhos da camisa , e apresentou-se perante a mãe.

Filho, diz ela, ainda és muito novo, mas terás que compreender a partida do teu pai.
Tens que sair da escola, vais trabalhar , pois iremos ter falta de dinheiro!

E foi assim que José, garoto, começou a guardar ovelhas na herdade do senhor Jaime da farmácia.

Levantava-se antes do nascer do sol, comia umas sopas de leite, a patroa punha-lhe dentro do alforge um naco de pão cozido havia mais de oito dias.
Juntava-lhe um pedaço de toucinho salgado, e só regressava ao pôr do sol.

Levou anos a fazer a mesma coisa, aí uns sessenta anos, talvez!
Sabia de cor os nomes das ovelhas, pois fora ele que assistiu ao seus nascimentos e lhe dera os nomes pelos quais as chamava.
Até sabia de cor a data dos seus nascimentos.
Também tinha o Fiel, o seu velho cão, que conhecia o rebanho tão bem como ele.
Ti´Zé ergueu a cabeça e despertou com o barulho que a charanga fazia ouvir.
O sol brilha. Os campos estão cheios de trigo e de papoilas.
Ora os seus olhos já viram tantas searas e tantas papoilas!
Agora não podem ver muito, estão cansados! Precisavam de uns óculos, mas como?
A reforma que recebe nem para o tabaco chega, mas também há muito que não fuma!
O dinheiro não chega para vícios, diz ele algumas vezes, com um pouco de escárnio!
Uns copitos ainda lá vai, mas caramba um homem às vezes não resiste.
A charanga chegou ao adro da Igreja. O barulho aumentou.
José olhe que hoje é dia do trabalhador, venha!
Os meus dias de trabalho já lá vão, hoje é o meu dia de descanso, disse com um sorriso amarelo!

sábado, 31 de maio de 2008

Eu quero estar morta

Eu quero estar morta, / mas morta por momentos, / quero ver se aquela porta, / se abre a outros ventos.

Quero ouvir as palavras, / que então irás dizer, / e sentir a coragem / que farás transparecer.

Vais dizer que me amavas, / pedir perdão do que fizeste / que muito me amavas, / que fui o amor que tiveste.

Agora o que vai ser de mim, / dizes com lágrimas de crocodilo, / pedes perdão sem fim / disto e mais daquilo !

E quando eu acordar, / teu semblante muda de cor, / juras para sempre me amar, / e que não terás outro amor!

Contigo dormi

Na tua cama me deitei, / contigo dormi, / mas quando acordei / não estavas ao lado de mim.

Estiquei o meu braço, /o teu lugar estava frio, /quis dar-te um abraço, / senti um calafrio / não quiseste o meu regaço , / contigo não vou jamais dormir.

A Morte

A morte não tem graça / mas tem a sua ventura, / dá paz por onde passa, / da cama, à sepultura.

Há quem sofra para penar / os males que outros fizeram, / mas a morte ao passar, / leva aqueles que sofreram!.

Abre os braços e aponta / agora é a tua vez, /mais um e não conta / as obras que ele fez.

Acompanha o infeliz, / fizesse ele bem ou mal, /as palavras que lhe diz: / até ao Juízo Final.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

A brisa

Sentada no campo estou / de verde toda cercada, / uma brisa por mim passou, / e a minha face foi beijada.

Meus cabelos desmanchou, / a minha cara ficou rosada, / quando a brisa por mim passou, / senti-me mais amada.

Continuo no campo sentada, / de olhos postos no céu, / espero que a brisa volte, / para beijar o rosto meu.!

A árvore

Olhai aquela árvore / que tão mal estimada está / de folhas despida,/ sombra, já não dá / e pouco lhe resta de vida.

Deu guarida aos passarinhos, / das suas folhas fizeram camas, / também fizeram seus ninhos / resistiu a muitas chamas, / e indicou muitos caminhos.

Era uma árvore secular, / um dia, alguém se lembrou, / por uma estrada no seu lugar, / ninguém jamais a regou, /até sua vida acabar.

Recebe visitas ás vezes / dos seus amigos pardais, / estes continuam voando, /e entre lamentos e ais / o seu tronco vão beijando.

Não tem lágrimas para deitar,/ seu coração já parou / mas, quando a vão beijar / parece que ressuscitou / com tanto chilrear.!

Ausência

Andaste muito tempo ausente / pergunto, onde estiveste? / mas crê que na minha mente / por muitas voltas que desse, / lembrava-me constantemente, / estivesses onde estivesses.

Perguntava por ti a alguém, / dava todos os teus sinais, / respondiam negativamente, / diziam isto e muito mais, /continuava o meu sofrimento, / os meus desânimos eram tais, / que não apagavam o tempo,/ que tu andaste ausente.


Agora voltaste e vais ficar / não te vou deixar partir / aquela porta vou fechar, / jamais se irá abrir, /nem que tenha de a selar.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A fonte

Água clara e pura , / por aquela fonte corre, / todo aquele que a procura, / tem a certeza que não morre.

Não morre de sede e ansiedade, / porque isto ela matou, / pode-se beber à vontade / que o tempo não passou.

Já corre há muitos anos, / muitas sedes ela matou, / quantas vidas e desenganos / à sua beira escutou.

No caudal das suas águas / murmúrios de amor ela ouviu / muitos risos, muitas mágoas / de gente que nunca mais viu.

Não conhece o seu destino / disseram-lhe que ia dar ao mar / mas um regato pequenino / não pode nunca secar.

Ao homem

Como sempre, foi o homem / pois é ele sempre que quer, / escolheu o mês de Maio, / para o dia da mulher.

Ele que sempre quis, / no mundo mandar, / escolheu este mês, / para a mulher elogiar.

É bom dizer ao homem, / que ele não tem poder, / e que o dia da mulher / é quando ela quiser.

Como vejo o mar

Olho ao fundo e vejo o mar, / azul muito azulinho, / vejo peixes a saltar, / e um barco devagarinho / parece uma noz a boiar.

Gaivotas acompanhando / os barcos que peixe trazem, / homens de voz rouca gritando / aproximam-se da margem / onde amigos estão esperando.

Na areia escaldante e fina / o peixe eles espalharam, / sardinhas , carapaus e corvina, / outras espécies espalharam, / que assustou uma menina.

Pela madrugada seguinte , / de novo voltam ao mar / mas, não têm a certeza / se voltarão a pescar/ porque o mar é uma presa.

O meu nome acabou

Não chames mais por mim, / porque meu nome acabou / gastou-se até ao fim, / chegou onde chegou, / não chames mais por mim.


Tinha apenas cinco letras, /da Virgem era o seu nome, / tinha amor e pureza, / só me resta o sobnome / que guardo com delicadeza.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A vida e a morte

Mas, ó ti António, ao que se deve sua tristeza, não me quer contar?O ti António continuava sentado no poial da sua porta, curvado, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o queixo entre duas mãos sujas pelo tempo.

Ti António nada dizia. O sr. Jacinto , sentou-se a seu lado e quedou-se a olhar para quem passava.

A Aldeia tinha aí uma centena de almas. O calor abrasava.

Está calor, não está, ti António?

O seu olhar vidrado não se desviava do chão.

O compadre Ventura já tem outro neto, disse. Mais um, ele já deve de ter aí uma boa meis dúzia, não será ti António?

Não ouviu a novidade. Bem, hoje não se pode falar consigo, não está cá, nã é ?



Muitas boas tardes, ouve-se. Como vai a srª Maria. Ora, cá vou andando com as pernas cada vez mais inchadas, , já fiz por aqui uma mezinhas que me indicou a comadre Ermelinda, mas o mal está cá dentro, e só sai quando eu for para ao pé do meu Manel.



Ora, nã diga uma coisa dessas, que às vezes Deus até castiga.

Como me pode castigar, se toda a vida me fartei de trabalhar, criei os meus sete filhos, e nã criei mais porque Deus me levou quatro.

Trabalhei ali naquele monte , que o compadre conhece muito bem, e nã trabalhei mais tempo, porque depois da morte do sr. Sebastião, que Deus o guarde lá em cima, e dizendo estas palavras benzia-se ao mesmo tempo.



O pior foram os filhos, que estragaram tudo, deixaram muita gente desta Aldeia sem trabalho. Diz muito bem comadre Maria, ainda me recordo naquele dia em que o compadre Silva , num momento do diabo se atirou para dentro do poço do quintal do nosso compadre Saraiva, dalém do monte do Moinho Branco, e apontava direito ao monte.



É verdade, bom homem!

O que será dos filhos dele?

Dizem que desde que abalaram para Lisboa nunca mais cá apareceram.

Bom, vou além à venda do sr. Andrade comprar alguma coisa para o jantar.

Vá vá , e as melhoras das suas pernas. Obrigada diz a senhora já a meio do caminho.



Vê ti António, cada qual tem a sua sina!

Este, continuava na mesma posição, de cotovelos apoiados nos joelhos e cada vez mais distante!



Vá para dentro homem, vá comer qualquer coisa e vá descansar um pouco



A Aldeia já foi grande. Em tempos, teve uma escola cheia de crianças.

A Igreja enxia-se de fiéis aos domingos, hoje,apenas meia dúzia de anciões, que até já nem vão à Igreja, porque esta encontra-se fechada, já não tem conta o tempo.



As lojas fecharam quase todas, apenas restam duas das quase duas vintenas que existiam.

A loja do senhor Andrade pouco ou nada difere dos tempos em que a senhora Maria trabalhava no monte do senhor Sebastião.

Um grande balcão ao comprido, ainda com gavetas cheias de agulhas, elástico, alfinetes, molas, etc.

Na parede, numas prateleiras em madeira antiga haviavárias peças de tecido a metro.

Ao lado, no chão, algumas sacas escuras com feijão, grão e até arroz.

Tudo isto para ser vendido a pequenas porções; a Aldeia é pequena e as pessoas já não têm o mesmo puder de compra.

Talvez fosse isto que trouxesse o ti António muito triste!

A mulher tinha morrido com uma doença que nunca ninguém descobrira.

Filhos, teve dois, mas estes abalaram assim que se sentiram maiores, e poucas vezes voltaram à terra.

Até nem sabe se tem netos!



Ó senhora Clotilde, olhe que estão a chamá-la lá para os lados dos Olivais.

A mim? O que será o que me querem.

A senhora Clotilde, mulher bastante forte, não que estivesse bem alimentada, mas também porque pariu uma boa meia dúzia de moços. Trabalhou muito na lavoura, na herdade do sr dr. Antunes.

Era boa pessoa!

Tinha muita gente a trabalhar para ele, sempre teve uma palavra de simpatia para com os seus homens. E a senhora do senhor doutor, era uma santa, ela sabia como a vida era dura, pois era filha de pais com pequenas posses e também com muitos filhos. Tinha sido uma moça muito bonita.

Ainda hei-de casar contigo, dizia-lhe muitas vezes o menino João, filho do farmaceutico da Aldeia.

Ora o menino, é bem melhor não dizer asneiras, não vê que o menino não é moço para mim!

Hei-de ser, hei-de ser, vais ver.

O menino João tinha uns quatro anos a mais do que Mariana.

Foi estudar para o liceu de Beja e só regressava nas férias.

Mariana ajudava o pais na lavoura, terra arrendada, que o pai trazia no Monte do Mirante.



A senhora Clotilde estava tão pensativa que nem ouvia os gritos dos vizinhos a chamarem pelo seu nome.

Mas, porque está aquela gente a bradar por mim?

Saíu a correr. O peso do seu corto não a deixava correr muito,

O que se passa criaturas, gritou.

Foi o seu marido, o primo Anastácio que se matou! Foi no poço do compadre Figueira, estão lá outros a tentarem tirá-lo.

Ó meu Deus, eu já esperava, disse limpando o nariz

O meu sonho

Quando sonho acordada / não acredito na realidade, /mas quando sonho a dormir, / julgo que tudo é verdade.

Passeio por cima do mar / o medo não me apoquenta, /até chego a voar, /na tempestade violenta.

Vejo aves esquisitas, /que me transportam nas asas, /mas quando me vêm aflita, /depressa me poêm em casa.

Sonho com mundos diferentes, / vagueio por rochas descalça, /vejo gente que amei, /e gente que me abraça.!

Falam comigo e sorriem, / até parece que é verdade / mas quando começa o dia, / volto à realidade.!

Teus pés descalços

Esses teus pés descalços / que outrora no campo corriam / pisavam pedras e folhas / e suas pernas sorriam.

Eram fortes e destemidas / nunca tiveram sapatos, / viviam no mundo às escondidas, / dos que, te fizeram em farrapos.

Pisavam milho e trigo, /e outros cereais / pela noite dormiam contigo, / só tu ouvias seus ais.

Hoje ninguém te conhece, / tens os pés calejados, /pouco a pouco se envelhece / e o teu corpo está curvado. 1

A minha sina

Já deitei tanta lágrima / que é impossível contar / minha face / ficou salgada, como a água, / que está no mar.

Teus olhos são duas torneiras / uma de azeite, outra de vinagre / se elas fossem verdadeiras / tudo nelas seria verdade.

Do sal das minhas lágrimas / vou fazer uma salina, / são tantas as minhas mágoas / que acredito que é sina.

É sina para rir e chorar, / lágrimas que da face vão caindo, / se nasci para te amar, / a minha sina vou servindo . 1

terça-feira, 13 de maio de 2008

Chamaste-me louca

Chamaste-me louca louca,/ fingi que não ouvi, / mas os beijos da tua boca / vou guardá-los para mim.

Ficarão no meu peito / juntinhos um a um, /mas também não vejo jeito, / que fique de fora algum.

São beijos ternurentos / dados com muito amor, / o cuidado que com eles terei, / ainda será muito maior.

Podes chamar-me louca louca / que eu não vou ouvir / mas os beijos da tua boca / serão meus , enquanto existir.

A tua imagem

Desço as escadas da minha rua, / olho em redor e nada vejo / fecho os olhos, vejo a lua, / paro, e escuto a noite, / oiço vozes ao fundo.

Mas a tua voz não está lá, acordo e vejo o mundo.

A lua já se apagou, /as vozes já se calaram, / o dia já começou.

Subo de novo as escadas, / e a tua imagem por mim não passou.!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu queria ser

Eu queria ser um malmequer / branquinho ou amarelo, / ser criança e não mulher / daria meu sorriso e perfume, / faria o mundo mais belo.

Se homem assim quiser,/ teria como companhia / a rosa, o cravo, a margarida / a túlipa, o jasmim e rosmaninho, / e a terra seria mais linda.

Se planeta Terra existe, / é para ser estimado, / peço a todos os corações / que o que foi dos nossos avós,/ deixem para outras gerações.

Maria Gonçalves

Não pedi

Não pedi para nascer / apareci por amor, / minha meta é vencer / com força e sem dor / por isso quero viver /no jardim, como a flor.

Deixem-me crescer sem fim, / quero brincar e correr, / não façam pouco de mim / nasci para viver / sou eu que sou assim / não quero nunca crescer.

Quero rir e chorar / quando me apetecer / quero correr e saltar / não tenho pressa de viver / quero o mundo abraçar / não pedi para nascer.


Maria Gonçalves

Sonho

Se eu pudesse a paz / ao mundo levar, / não sei como se faz / mas continuo a sonhar.

As imagens que me mostram /as têvês e os jornais, / os homens que as provocam / não podem existir jamais.

São pessoas sem amor / separadas da humanidade, / nelas, não existe calor / mas apenas a maldade.

Matam aves, matam rios /matam todas as esperanças, /matam homens e mulheres / e o sorriso das crianças.!



Maria Gonçalves

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Um grito

Quero soltar um grito / mas um grito de revolta / meu cérebro está aflito / só vê maldade à solta.

Quero soltar um grito / já me dói a garganta / de tantos ais soltar / este mundo que me espanta / em vias de acabar / onde a maldade é tanta.

Quero um grito bem agudo / que se oiça no outro lado /que saia do fundo / do meu cérebro bem cansado / p´ra se ouvir em todo o mundo.

Outros gritos irei ouvir / mais fortes do que o meu / que façam o mundo sentir / que o que a Terra deu / não é para destruir / porque é meu e é teu.


Maria Gonçalves

O poeta não é um fingido

Dizem que o poeta é um fingido, / não concordo com o dizer / tudo aquilo que escrevo e digo /é o que sinto ao escrever / a vida, que tenho vivido!

Vejo guerras pelo mundo fora, / gritarei a minha revolta, / se vejo velhos sem abrigo / se vejo ladrões à solta / se escrevo, não é fingido !

Se vejo gente a enriquecer / sem para isso nada feito, / se vejo outros a morrer, / por falta de pão e de um leito / não posso deixar de escrever.

Vou escrevendo o que sinto / e o que vejo à minha volta / por isso não sou fingido / o que sinto é revolta / de muitos, terem nascido!.


Maria Gonçalves

Aquela casa branquinha que deixei no Alentejo

Aquela casa branquinha que deixei no Alentejo / hoje, está muito velhinha / quando a vejo não me conhece /nem sabe que já foi minha.

Era pequena e modesta, uma família abrigou / nela, todos coubemos / pais, tios, parentes , minha avó e meu avô.

Tinha paredes caiadas, / no meio, uma janela / suas portas debruadas / com riscas amarelas.

Não lhe digo que a conheci / e que já foi minha / não lhe digo que vivi / naquela casa velhinha.


Maria Gonçalves

O Modesto

O Modesto tinha nome, mas não sei se era o seu nome próprio ou alcunha. Como geralmente em todas as aldeias, há sempre um Modesto.

Figura típica, certa dificuldade em andar e no falar, o que faz com que a criançada se divirta no meio da sua inocência.

Pois no meu tempo havia um Modesto. Andrajosamente vestido, sempre com os mesmos trapos velhos a cobrir os ossos gastos pela doença, não sei se também pela idade, pois eu não sabia avaliar a idade de qualquer pessoa devido à minha idade.

Estava-mos na segunda guerra mundial. Da guerra, só ouvi falar dela anos mais tarde, visto que não havia comunicações, nem escritas nem faladas que chegassem ao Alentejo.

Da miséria , da fome e de outras privações sempre ouvi falar. Foi o motivo porque o Alentejo em poucos anos quase que ficou despovoado.!

Bem, vou falar do Modesto. Todos os sábados era hábito os mendigos que viviam algures em montes mais desviados da povoação, descerem à aldeia e baterem à porta dos mais afortunados
para assim obterem uma moeda 1/2 tostão naquele tempo.!

Se por acaso, o benemérito não tinha a moeda de 1/2 tostão, dava um tostão, mas o mendigo não podia voltar no sábado seguinte, visto que já tinha recebido adiantado.

Ora um destes pedintes era o Modesto. Era uma alegria para a pequenada, incluindo a minha pessoa, ver surgir a cabeça do Modesto numa rua que era bastante inclinada, primeiro a cabeça depois lentamente o corpo, e nós a pequenada, estava-mos numa rua mais baixa.

Era-mos muitos rapazes e raparigas todos de tenra idade.
Assim que avistava-mos o Modesto sempre com a mesma roupa, descalço, pés tortos calejados e muito sujos, era uma alegria

Mas a principal personagem desta história, é nem mais nem menos o cajado que o Modesto trazia. Era feito de pau de marmeleiro, com muitos nós e muito usado.
Sempre o conheci com aquele cajado.

Ora , quando o Modesto chegava ao topo da rua, nós gritava-mos uns para os outros : - lá vem o Modesto, lá vem o Modesto, ao mesmo tempo que gritava-mos para ele: Modesto, Modesto, não nos apanhas, não nos apanhas!

O Modesto punha-se a jeito, e ao mesmo tempo que se mordia a ele mesmo, preparava o cajado para aquilo que eu jamais esqueci e que ainda hoje me dá vontade de rir. O Modesto tinha um jeito muito especial para segurar o cajado.

Enquanto gritava-mos lá vem o Modesto, lá vem o Modesto, íamos fazendo fosquinhas na sua frente, embora afastados.

O Modesto, atirava o cajado em diagonal rentinho ao chão, e não havia canela que se salvasse. O cajado voltava à posição inicial e a miudagem na sua festa. O Modesto no seu belo estilo repetia a proeza e as nossas canelas ficavam cheias de nódoas negras e muitas vezes até sangravam!.

Nós, só nos retirava-mos depois de muito cansados, mas com a ideia de voltar-mos no sábado seguinte. Pelo meio da tarde todos os pedintes voltavam para os montes, até que surgisse outro sábado. O Modesto não era excepção. Mas nós, a criançada esperava-mos com ansiedade outro sábado.

Ainda hoje tenho a impressão que sinto as pancadas que o cajado do Modesto dava nas minhas pernas.

Mais tarde vim para Lisboa com os meus pais. Pouco a pouco, a Aldeia foi ficando deserta.
As crianças emigraram juntamente com os pais.

Ainda voltei cinco ou seis anos depois ao Alentejo. Perguntei pelo Modesto, mas ninguém soube responder. Disseram que ele nunca mais voltou à Aldeia.

Coitado do Modesto, seria a falta dos nossos sorrisos que o matou? Só Deus sabe!


Maria Gonçalves

Eu quero estar

Eu quero estar num monte /não quero aqui estar / beber a água da fonte / para meus males lavar.

Não quero estar aqui no meio da poluição, / no lugar onde nasci / é que está minha paixão.

Lá no alto no altinho, / é onde eu quero estar, naquele monte , / no montinho, quero meus males curar.

Há uma fonte correndo, pela serra verdejante, / e nela vai bebendo o mais triste caminhante.

Suas águas o consolam e força lhe dão de novo, / a esta fonte esmolam as alegrias deste povo. /

Eu quero daqui partir, o meu ultimo desejo, deixarei de sorrir, se não voltar ao Alentejo.

Maria Gonçalves

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Mulher nasci

Sou mulher, / mulher nasci, / não escolhi / podia ser uma flor / plantada num jardim / ou fruto selvagem / algures, que nunca vi

Podia ser pedra, ou montanha rochosa, / ser mar ou rio, / ou pássaro cantando ao desafio / com grilos no Estio!


Podia ser isto tudo, mas não sou / resolvi ser mulher / ocupar o espaço que me pertence / estar aqui ou noutro lugar qualquer!.


Maria Gonçalves

Sei lá

A musica parou, /meu pensamento também / já nem sei onde estou / se aqui ou além.

O horizonte está longe / tão longe que o não vejo, / eu queria tanto agarrá-lo / é esse o meu desejo.

Que toquem todas as musicas / para eu poder pensar, /que nunca mais elas parem / para o horizonte agarrar.


Maria Gonçalves

Sempre Primavera

Uma noite sonhei contigo, / que subi ao teu castelo, / não tinhas ruas nem vielas / mas o que eu vi, era tão belo / que ao acordar não queria esquecê-lo.


Sonhei que eras uma nuvem branca, / em redor, muitos santinhos / a teus pés ajoelhados, / na cabeça, flores infinitas, / pareciam o arco- íris, / mas com cores jamais vistas.


Toquei-te, da minha mão brotou uma luz / trazia calor, não me assustei / senti que era o amor.

Quando acordei, a luz desaparecera, / quis fechar os olhos de novo, / mas algo me dissera,

não foi sonho, é a Primavera!.






Maria Gonçalves

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nada sei de mim

Nada sei de mim / pergunto a quem passa / se me viu / oiço silêncio
sem fim / não sei o que faça, / nada sei de mim!.

Caminho estrada fora, / pergunto ao luar se me viu, / diz-me ao vento perguntar e sorriu /
depois de me beijar.

Já não pergunto mais / eu estarei nalgum sítio, / oiço dizer, aonde vais? / abro os olhos e vejo vendavais!

maria gonçalves
amadora

As flores do meu jardim

Se na próxima primavera / eu já não existir/diz às flores do meu jardim / que tive que partir.


Diz à roseira do quintal /que a plantei com amor / e o vermelho das suas rosas / que nunca mudem de cor.


O craveiro da janela / do meu primeiro andar / que espalhe seu perfume / a quem na rua passar.

Às violetas e malmequeres / que estão no canteiro do fim / e a todos os outros seres / que não se esqueçam de mim.


A Primavera vai voltar / irão de novo florescer /às flores do meu jardim / diz-lhes, que não fui morrer.
Amadora
Maria gonçalves

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Finalmente o dia da mãe

Hoje acordei bem disposta; durante a noite agarrada aos auriculares e juntamente com um radiozinho que tenho, fui ouvindo alguns desabafos que certas mães faziam para a rádio.

Algumas declarações impressionaram-me de verdade.

Há mães cujos filhos não lhes falam há mais de 20, 30 anos. Receberam a herança que lhes competia após a morte dos respectivos pais e desapareceram.

Outros há, que a droga lhes roubou a alegria de viver, e ficaram sem os filhos e sem saúde.

Aquelas declarações deixaram -me muito pensativa!
Era já dia da mãe embora ainda fosse noite.

Pela madrugada adentro, adormeci. Mas não foi por isso que eu acordei bem disposta.

A minha boa disposição foi que bem posso agradecer a Deus os filhos que criei!

Tive-os ainda era jovem e dei-lhes a educação que eu julgava ser a mais correta.

Felizmente que me não enganei, embora muitas vezes o mau caminho não é originário da educação que tiveram. A história é bem diferente.

Bem vamos ao meu dia da mãe.

Como sempre recordei a minha mãe , não é necessário ser dia da mãe, mas nestes dias a saudade parece ser maior.

Pelo princípio da tarde recebi via telefone os parabéns dos meus filhos, porque eles já são casados e estão nas suas casas.

Depois do almoço recebi a visita do meu filho que me veio trazer uma prenda ( uns brincos ).

Pela noitinha fui jantar com a minha filha, meu genro, minha neta e neto. Meu filho não pode ir.

A minha neta ofereceu-me um lindo ramo de margaridas acompanhado com muitos beijos e abraços. Nós somos muito beijoqueiras uma com a outra. A minha querida neta já é uma senhora e chama-se Sofia, nome grego que lhe traz muita luz.

A minha filha como é professora de yôga, ofereceu-me um livro alusivo à modalidade.

Mas o mais engraçado é que o livro veio autografado por um grande Senhor Mestre De Rose, que é o expoente máximo de sabedoria .

Fiquei feliz porque não é todos os dias e nem sempre que se tem uma prenda tão admirável!

O jantar foi muito agradável ( comida chinesa).
Terminou um pouco tarde mas valeu a pena. Assim se passou o meu dia da mãe.

Para terminar resta-me apenas um grito de felicidade e agradecimento.

Obrigado meu Deus pela família que puzeste à minha disposição.

E já agora um favor que lhe peço: ajuda todas as mães serem felizes!

Obrigada.

De ti mulher

De ti mulher, nasceu o fruto do teu amor, / mas um dia, quando pensavas que era só teu /
alguém o chamou.

Deu-lhe um número, / vestiu-lhe um uniforme / e pôs-lhe uma espingarda na mão.

Mandou-o matar com granada ou canhão. / Não importava que fosse até um irmão,

O importante era matar, para o ar, / para a direita, para a esquerda / e não olhar.

Na guerra, não se olha, obedece-se.

Sabe que ou ele ou outro, para o senhor salvar. /Depois é mandado para a mulher que lhe deu o ser, /sem um braço ou perna para correr.

E tu mulher, / que não fizeste a guerra, / que destruíram o fruto do teu amor, /não mostras as tuas lágrimas.

Mas a tua força interior , mostra como é ser Mulher!.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A minha flor

A minha flor nasce dentro de mim / tem raízes muito fortes que tocam a terra / o seu caule é forte e comprido , / as suas pétalas são de uma cor viva, /

Por vezes, a flor fecha-se nos dias mais cinzentos, / para logo de seguida receber de novo o sol que bate nela, / dando uma sensação de alegria, / o meu caule cresce ainda mais, e as raízes ficam mais fortes.

Neste jardim, existem outras flores, / umas altas, outras baixas, outras fortes e grandes, / por vezes lutam entre si, / para encontrarem lugar neste lindo jardim.

para ti minha mãe

Vou iniciar este meu blog com uma homenagem à minha mãe, visto que dentro de 2 dias se irá comemorar mais um dia da mãe.
Mãe desculpa de nunca de ter dito que gostava de ti, sempre te escrevi poemas mas talvez tu não ligasses muita importância, tinhas mais cinco filhos para dar atenção. e eu sempre pensei que não te era muito próxima, talvez por ser a mais velha das raparigas, notava em ti uma certa distância em relação à minha pessoa, mais tarde pensei que talvez fosse por ser muito parecida com o meu pai, e vocês os dois havia muito que estavam de costas voltadas, mas nós filhos, não temos culpa dos vossos erros. Lembro-me quando se aproximava o dia da mãe, que naquele tempo era no dia 8 de Dezembro, dia da nossa Senhora da Conceição, enviava-te sempre um cartão a imitar um postal ilustrado, feito de cartolina, com uma quadra feita por mim, colava um selo e enviava pelo correio. No dia da mãe era a tua prenda, visto que não tinha dinheiro para outra mais cara.
Tu eras muito fria para comigo, não me lembro dos teus beijos e abraços, talvez mos desses quando eu era de colo. Mas não estou aqui a julgar-te porque infelizmente partiste muito cedo, não me avisaste e a mim faltou-me a coragem para te dizer que te amava. Hoje penso em ti todos os dias, e dou-te razão porque a vida não foi nada fácil para contigo, quando estavas a começar a ter a vida melhor veio essa maldita doença e levou-te. Agora peço-te que olhes por mim onde quer que estejas. Acredita que eu ainda te amo. Os homens cá da terra já não festejam o dia da mãe na mesma data, lembraram-se de a passar para o primeiro domingo de Maio.
Não é mal, sempre é no mês de Maria. Não quero acabar esta minha carta sem te enviar um feliz dia da mãe como se estivesses sempre a meu lado.
Minha mãe que partiste / e de mim estás esperando /ainda te hei-de abraçar / mas só não sei quando.
Hoje é dia da mãe / como sempre te recordo, /para mim estás sempre viva, / mesmo quando durmo e acordo.
Hoje te venero / com saudade e alegria, / recebe as minhas preces / da tua filha Maria.