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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O LAR


Hoje fui visitar uma amiga que está internada num lar para a terceira idade.

Semanas antes dera entrada num hospital devido a um AVC.

Como amiga e vizinha, senti a obrigação de visitá-la.

No hospital , ao contrário que muitas vezes se ouve dizer, foi muito bem tratada. Asseio e pessoal competente , tive ocasião de verificar.

Como esta minha amiga é viúva e vive só, tendo apenas como companhia um pequeno cão, não pode estar em casa, apesar de ter família que reside próximo. Mas cada qual tem os seus afazeres , e esta família é muito amiga e dedicada.

Toquei à campainha. Alguém me abriu o portão carregando num botão que estava no interior da casa.

Entrei . Havia um grande pátio com muitas árvores e bancos.

Casualmente a primeira pessoa que vi, foi um antigo chefe que tive numa empresa onde trabalhei há muitas anos.

Cumprimentei-o, conheceu-me e retorquio perguntando se os meus estavam todos bem .

Despedi-me e fui ao que ali me levava, visitar a minha amiga.

A sala estava cheia de idosos. Uma sala enorme com muitos cadeirões e cadeiras que estavam todas ocupadas.

Disse boa tarde, ninguém respondeu.

Aproximei-me da minha amiga que por sinal era a doente com melhor aspecto que ali se encontrava e que mais visitas tinha.

De vez em quando eu olhava em redor e vi que algumas daquelas doentes eram pessoas que tinham residido no meu bairro e que algumas vezes tínhamos trocado algumas palavras.

Tentei falar com uma, mas não me reconheceu. Pareciam zombeis!

Fiquei muito impressionada e triste.

Algumas falaram comigo durante alguns anos e agora não me conhecem.

A vida não é justa por vezes. Sei que elas lutaram tanto na vida, para que quando chegasse esta altura tivessem uma vida mais calma, mas não, a própria vida pregou-lhes uma partida.

Às vezes dizem que os filhos abandonam os pais em casa sem condições!

Não é o caso, aquele lar tem as condições que são exigidas pela entidade respectiva.

A hora da visita passou depressa. Despedi-me do senhor que tinha sido meu chefe que entretanto já tinha recolhido.

Não respondeu. Notei que as suas palavras oscilavam, afinal também não estava muito bem.

Despedi-me da minha amiga que ainda era a que estava melhor.

Beijou-me com sofreguidão e acenou-me até eu transpor a porta da saída

Voltei a visitar novamente a minha amiga. Aparentemente estava na mesma.

Lá me beijou com sofreguidão como se me não visse há muito tempo.

Os outros, homens e mulheres nem levantaram a cabeça quando os cumprimentei, dormitavam todos.

Como sempre , a minha vizinha era a que mais visitas tinha. Senti nela uma alegria imensa quando eu aparecia. Pudera, moramos lado a lado há muitos anos !

Trabalhámos na mesma empresa durante alguns anos, agora que estava reformada e que podia ter algum tempo de laser quis o destino que isso não acontecesse.

Era a minha companhia nalguns passeios que a nossa empresa promove anualmente.

Na despedida das minhas visitas envia sempre muitos beijos para a minha família embora ela já se não lembre dos seus nomes. Não a vou visitar todos os dias derivado à minha vida particular , mas assim que posso lá estou eu. A sala onde se encontram os outros utentes é muito grande. Tem imensos cadeirões e mesas onde recebem as suas refeições. No piso inferior , são os quartos de dormir, alguns estão ocupados com doentes acamados, cada quarto tem duas camas, também há um armário individual para cada internado.

Nas mesas das refeições cabem quatro pessoas as quais têm lugar cativo que é para não fazerem confusão . A alimentação, dizem que é boa, mas como a cozinha fica ali muito próxima e pelo cheirinho que dela sai é de crer.

Tenho reparado que as empregadas são muito carinhosas para com os utentes. Também há um médico que os trata muito bem.

Tomam os remédios a tempo e horas, e se por acaso alguém se magoa como foi o caso da minha vizinha as atenções são redobradas. As minhas visitas são passadas assim, conversando, fazendo que eles se riem com algumas festas e piadas que tento fazer.

E já passara oito meses e a minha vizinha continua a acreditar que está no hospital e que só sairá quando lhe passar o inchaço que tem numa perna. Continuo a visitá-la , mas agora tenho outras amigas. Julgo que sempre tive um certo jeito para lidar com a terceira idade.

Entre os pacientes estão duas idosas que não consigo saber qual as suas idades.

Uma diz que tem quarenta anos, a outra diz que tem trinta. mas as duas já ultrapassaram os oitenta.

A uma pergunto quem lhe deu a roupa tão bonita que traz, responde-me que foi à baixa mais a mana comprar. Eu não a desminto pois ela não tem nenhuma mana, ou talvez tivesse tido.

A esta chamo menina Ivone a outra é a menina Ana, são os seus verdadeiros nomes.

Adoram a minha companhia, e ficam com outra cara quando me despeço delas.

A menina Ana teve há alguns anos , uma mercearia na minha rua.

Infelizmente veio-lhe a tal doença horrível "Alzeimer".

Agora, passa os dias a fingir que descasca batatas, aspira o chão com a bengala julgando que é o aspirador e até me disse que mandou o marido ir buscar uma saca de cebolas.

Por vezes cozinha arroz de ervilhas e convida-me para jantar com ela, claro que finjo que aceito.

Como na sala não há barulho, a menina Ana vira-se para mim e diz: qualquer dia meto estas raparigas numa camioneta e vão todas apanhar azeitonas!

As raparigas são as idosas que estão no mesmo estado do que ela

Outras vezes finge que está a fazer bainhas à saia, e mimicamente vai apanhando as linhas que só ela vê no chão. mas o mais agradável é a boa disposição que esta senhora tem e o seu sorriso encantador.

Com respeito à menina Ivone , não sei qual a sua idade, nem sei qual a sua doença. fala muito baixinho mas muito acertado.Tem uns lindos olhos azuis, uma pele branquinha, umas mãos muito finas, tudo nela brilha!

Está sempre muito bem vestida, mas nunca lá vi nenhum familiar. Diz-me que quem lhe comprou a roupa foram a mana e a mãe numa loja da baixa.

Diz que a mãe tem vinte anos, ora ele deve de ter oitenta! Mas para a ouvir bem tenho que encostar o meu ouvido à sua boca.

Passa os dias sentada no mesmo cadeirão, com um xaile nas pernas e só fala quando me meto com ela. Quase que me vou esquecendo da minha vizinha.

Outro dia, a menina Ivone levantou-se rapidamente e convidou-me para ir com ela a casa da mãe e perguntar-lhe qual a razão de não a vir visitar! Desculpei-me com o mau tempo e ela resignou-se, nunca mais falou no assunto.

Estes são os assuntos que aquelas adoráveis senhoras têm comigo cada vez que as vou visitar, pois elas já fazem parte da minha intenção de visitas.

Estou pensando continuar a visitá-las mesmo que a minha vizinha saia um dia para a sua casa.

Agora sei que um sorriso e umas palavras amigas conseguem pôr algumas almas felizes.

Certo dia, fui informada que o meu antigo chefe tinha falecido, mas o que mais me impressionou foi que na vésperas tínhamos estado a falar a relembrar o tempo que ele fora meu chefe.

As senhoras minhas amigas já estão acamadas, por isso já não vale a pena visitá-las !

A minha vizinha está a fazer hemodiálise três vezes por semana, e nestes dias está tão cansada que não recebe visitas !

A sua memória está a enfraquecer dia a dia.

Agora resta-me olhar para a sua janela e lembrar-me das vezes que íamos aos passeios que a nossa empresa organiza para os reformados!

Desisti de ser uma MADRE TERESA!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não partas

Não partas já meu irmão,
não partas porque não quero,
vai-me fazer falta
o teu carinho e compreensão
que sempre me deste e retenho
no meu coração.

Não partas porque ainda é cedo,
não partas que tenho medo,
onde irei buscar as tuas palavras?
Sabes que sempre te amei,
foste meu amparo enquanto criança,
ao teu lado sempre andei.

Por isso deixa-te ficar ao meu lado,
quando fores, iremos os dois,
espera mais um pouco,
o nosso lugar está guardado,
ninguém tomará posse dele,
não partas meu irmão amado,
não partas!